Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

O cortesão e o herege

Livro conta a história do encontro e dos desencontros entre Spinoza e Leibniz, na encruzilhada da modernidade

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"The Courtier and the Heretic" (o cortesão e o herege), de Matthew Stewart, não é exatamente um livro novo (saiu em 2007), mas, como gostei bastante de um título mais recente do autor ("An Emancipation of the Mind", que já comentei aqui), resolvi experimentar. Não me arrependi. "The Courtier..." é até melhor do que "An Emancipation...".

Em "The Courtier...", Stewart conta a história do encontro e dos subsequentes desencontros entre dois dos mais notáveis filósofos do século 17, Spinoza e Leibniz, que não poderiam ser mais diferentes, nem mais semelhantes.

Halo solar é visto no céu de Brasília - Pedro Ladeira - 4.set.2014/Folhapress

Spinoza é o grande nome da modernidade. Percebeu que o avanço das ciências criaria problemas para o Deus pessoal dos religiosos e aceitou as consequências. Sua filosofia equipara Deus à natureza, tirando-lhe qualquer espaço de atuação, e nega a existência de milagres e de uma vida após a morte no modelo das religiões. Não é surpresa que tenha sido excomungado pela comunidade judaica de Amsterdã e vilipendiado por todos os teólogos da Europa. "Judeu ateu" é a expressão menos insultuosa dirigida a ele.

Leibniz leu e entendeu Spinoza, mas se recusava a abandonar o Deus pessoal. Não por ser um carola inveterado (ele não ia à igreja), mas por achar que as pessoas precisam de religião para viver em paz. Na tentativa de resgatar esse Deus, criou um sistema engenhoso mas abstruso, com suas mônadas e mundos possíveis (vivemos no melhor deles), que virou motivo de chacota de Voltaire e Jonathan Swift. Pior, Stewart mostra que, no fundo, Leibniz continuou sendo um spinozista, mas "no armário".

Tão interessante quanto a investigação filosófica que Stewart nos apresenta são suas observações sobre a psicologia dos dois filósofos, notadamente a de Leibniz, uma figura muito mais difícil de destrinchar do que Spinoza. O alemão, afinal, é um daqueles raros personagens que pode ser pintado como gênio, vilão e pessoa bem-intencionada.

helio@uol.com.br

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