Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Novo partido de Bolsonaro pode ser só mais um grupo de WhatsApp

Falta uma sigla conservadora de verdade no Brasil, mas Aliança parece um pastiche

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É comentário constante ao longo dos anos pós-1985, em círculos liberais e mesmo nos esquerdistas de cepa menos dogmática, que faz falta ao debate público do país uma verdadeira agremiação conservadora.

Plateia em torno de Jair Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto
Plateia em torno de Jair Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters

Não uma UDN ou uma Arena, mas sim algo que lembrasse Thatcher, para ficar numa boa vontade danada com a fantasia. Bom, tristes trópicos: Jair Bolsonaro acaba de nos brindar com o projeto da Aliança Renovadora Naci..., digo, da Aliança pelo Brasil.

Num governo de Castellos Brancos e Robertos Campos, para não perder a piada e sem julgar as áreas em questão, não deixa de ser coerente da parte do presidente. Seja como for, o Brasil agora vive uma situação análoga à da Rússia, cujo líder Vladimir Putin participa nesta quarta (13) e quinta do encontro do Brics, em Brasília.

Nas terras do czar, Putin também é um presidente que abdicou do partido que criou para estruturar seu projeto de poder, o Rússia Unida. Foi uma forma de manter as facções rivais em constante disputa, emulando assim o modus operandi de seus antecessores do tempo dos Románov.

A comparação, claro, para aí. Mas é possível ver esse traço putinista na tentativa de Bolsonaro de montar um partido para chamar de seu. Deve ter sucesso na empreitada, pois não tem um cetro, mas sim a caneta presidencial.

A nota curiosa será ver que apito a legenda tocará ideologicamente. A depender dos encontros sob inspiração do grão-mestre da ordem, Olavo de Carvalho, o bom nome do conservadorismo será vilipendiado como nunca nessas plagas.

Se tal Aliança logrará êxito operacional, é algo a ver. O teste mais fácil, no qual Bolsonaro fracassou com o PSL, é a formação de apoios consistentes no Congresso. Para a sorte do presidente, para cada um de seus disparates e das suas intervenções deslocadas da realidade, há dois deputados interessados em aprovar a agenda econômica do governo.

Já o próximo obstáculo, a montagem de palanques competitivos nas principais cidades do país no ano que vem caso o partido se estruture a tempo, este é insondável agora. Ficou para trás o ativo que se supunha mais competitivo e de destaque, Joice Hasselmann (PSL-SP), a deputada que acabou brigada com os primeiros-filhos e escanteada pelo presidente.

Quem será o operador da sigla, aquele que fala em nome do chefe? No bolsonarismo, eles se chamam Legião, mas estão todos encarnados num só homem. São eles que sussurram “risco de virar o Chile”, “artigo 142”, “Lula terrorista” e afins no ouvido do nada inocente mandatário máximo.

Além do mais, os bolsonaristas vivem de uma pulsão de morte evidente; é a destruição, não a construção, seu “Leitmotiv”. Não costumam ter interesse por projetos viáveis de poder, e sim por uma balbúrdia constante. A nova agremiação pode até ser uma Rússia Unida nos sonhos dourados desse pessoal, mas tem tudo para repetir o PSL e se tornar na realidade um novo grande grupo de WhatsApp.

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