Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Pós-Previdência, euforia do mercado enfrenta realidade da política

Agenda após a aprovação da reforma inclui pacote delicado de contenção de gasto público

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A reforma da Previdência, enfim, é um assunto politicamente superado. Na prática, todos sabem, terá de ser refeita ou remendada em alguns anos, mas o bode foi tirado da sala.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante ato em Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante ato em Brasília - Pedro Ladeira - 7.out.2019/Folhapress

Não fosse o fatídico áudio de Joesley Batista com o então presidente Michel Temer (MDB), é possível estimar que a reforma de 2017 teria sido aprovada. Aí talvez houvesse outros avanços. Aí a eleição poderia ou não ter outra cara. Em política, o exercício do “what if” (“e se”) é fútil como futurologia regressiva, ainda que possa encerrar alguns aprendizados.

E agora? Encerrada a ladainha momentânea, alguém terá de mostrar serviço e gerar a sensação de que há governabilidade no país. A comemoração que o governo fará da aprovação, por óbvio legítima, não terá o condão de mitigar o desemprego.

Se a reforma foi largamente aprovada pelos esforços do Congresso sob o comando de Rodrigo Maia (DEM-RJ), ela ainda era um produto da oficina de Paulo Guedes e é de lá que se deveria esperar as próximas jogadas.

O ministro da Economia queria engatar uma ainda mais ambiciosa reformulação tributária na sequência. A realidade o fez baixar a bola. Para piorar um pouco, a recuperação econômica que se insinua tem alguns aspectos úteis à análise eleitoral, mas nada sugere musculatura que retire do chão a questão do emprego e da renda. É preciso mais.

O mercado não olha há tempos para a Esplanada, mas sim para a Câmara para estabelecer seu cardápio de desejos. Basta ver o impacto negativo das lorpices envolvendo o PSL e Bolsonaro, por mais que minimizar risco político nestes dias seja um ato quase de fé. A ala ideológica do governo é uma carranca e tanto para ser desprezada.

Na prática, restará então atacar a crise fiscal, tarefa da mais prementes e que Maia por ora abraçou. Mas isso demandará o enfrentamento com as ainda poderosas corporações do funcionalismo público, alvo preferencial do item que mais provoca salivação do pacote que o Congresso apreciará.

Teoricamente, a agenda tem apoio de uns 2/3 das Casas. Será uma mexida naquilo que os servidores consideram direitos adquiridos, esse conceito distorcido no Brasil, manterá tal fôlego? Como escrito aqui, há uma possibilidade nada desprezível de parte das ruas, em Brasília certamente, se enfurecer.

Nada parecido com o Chile, contudo, salvo eventual sequestro de agendas pelos black blocs úteis de sempre. Aliás, o país andino vive o seu 2013, que pode até lembrar o nosso, mas com tantas diferenças estruturais que fica quase risível ver esquerdistas profetizando uma revolução continental guiada por bandeiras vermelhas.

Aí, como também já foi argumentado, o autoritarismo de Bolsonaro poderá emergir de forma mais estridente. Ou não, e aí talvez o Congresso resolva puxar não só uma sardinha, mas o cardume todo para sua brasa. De uma forma ou de outra, não parecem cenários tão eufóricos quanto os dos operadores da Bolsa.

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