Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Aos que virão depois de nós

A maioria silenciosa precisa vencer a inação, quebrar a paralisia e a manipulação

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Uma nova década se inicia em um período de muita turbulência e incertezas no Brasil e no mundo. “Realmente vivemos tempos sombrios! (…) em que é quase um delito falar de coisas inocentes, pois implica silenciar tantos horrores”.

O poema de Brecht escrito na Segunda Guerra Mundial, traz mensagens muito atuais. Mas hoje temos muito mais conhecimento e ferramentas do que na época em que viveu o grande poeta e dramaturgo. Portanto, não deixemos passar “o tempo que nos foi concedido na terra” sem refletir e agir para transformar positivamente nossa realidade.

Afinal não podemos mais esperar pelo “momento em que o homem seja bom para o homem” e para o nosso planeta. O momento é agora. As decisões tomadas na próxima década determinarão se vamos sobreviver e prosperar.

Não seremos lembrados pelas próximas gerações com indulgência se perdermos a oportunidade que temos nos próximos dez anos de trazer conosco quem ficou para trás, e de reverter um ciclo de destruição de recursos naturais. E não deveríamos mesmo ser poupados pela História se formos responsáveis por negar aos nossos filhos e netos o direito de construírem a sua própria.

Temos enormes desafios pela frente, mas temos também as evidências científicas, as tecnologias e os fóruns globais para coletivamente enfrentá-los. Além disso, dispomos de uma plataforma poderosa para nos guiar. Em 2015 os países membros das Nações Unidas se comprometeram a atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.

Esse ambicioso plano de construção de um mundo mais justo, inclusivo e sustentável traz 169 metas, que se atingidas, devolveriam a esperança e o direito a sonhar aos que virão depois de nós.

Se temos a capacidade de atingi-las porque não o faríamos? A principal ameaça que precisamos enfrentar é a falta de liderança, ou melhor, são as más e irresponsáveis lideranças que estão, por escolha, sabotando a cooperação internacional e tomando as decisões erradas, colocando a todos nós em risco.

O contexto político instável favorece —e é gerado de forma proposital por governos populistas autoritários e as forças que os sustentam, impedindo as parcerias necessárias para que a implementação de todas as metas sejam potencializadas e bem sucedidas.

Sem as conquistas compartilhadas dos ODS, em áreas como redução da pobreza e desigualdades, educação, saúde, paz e justiça, estaremos ainda mais longe de conseguir lidar com as grandes prioridades da humanidade no século 21, citadas por Yuval Harari.

Sofreremos as consequências fatais das mudanças climáticas, seremos dominados e não os que dominam a inteligência artificial, e podemos não conseguir frear a ameaça de um conflito global que envolva o uso de armas de destruição em massa. Pode parecer alarmante, mas o conhecimento científico acumulado nos diz que a próxima década será determinante para todas essas questões.

O que podemos fazer então? Em primeiro lugar, a maioria silenciosa precisa vencer a inação. Precisamos, enquanto sociedade, ser capazes de quebrar a paralisia e a manipulação causada pelo medo e pelas incertezas que nos cercam.

Precisamos também escolher melhores líderes políticos que tenham vocação de servir e possuam o interesse público como princípio e norte. E, aqueles de nós que têm o privilégio de estarem em uma temporária zona de conforto precisam fazer mais, muito mais, para apoiar a rápida e urgente transformação.

Desejo que no primeiro dia deste novo ano cada um de nós reflita sobre como quer passar o tempo que nos foi concedido na terra, e sobretudo o que quer deixar de legado para os que vieram e virão depois de nós. Feliz 2020!
 

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