Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Pedagogia do opressor

Bolsonaro ataca Paulo Freire e legado do educador brasileiro vai da sala de aula para o Twitter

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O adjetivo usado pelo presidente @jairbolsonaro para criticar o educador Paulo Freire nesta segunda-feira (16) não parece se aplicar exatamente a ele. “Energúmeno”, ensina o dicionário Houaiss, é, “no cristianismo primitivo, indivíduo possuído pelo demônio; possesso, endemoniado” e “pessoa que age com violência, de forma irracional, brutal; desequilibrado” ou, ainda, “indivíduo ignorante; boçal, imbecil”.

Características pouco condizentes com a personalidade tranquila e compenetrada do professor e filósofo pernambucano, autor da célebre "Pedagogia do Oprimido"

A furiosa declaração de Bolsonaro, dada na saída do Palácio da Alvorada para justificar a decisão de encerrar o contrato com a associação que geria desde 1995 a TV Escola, rapidamente escalou o topo dos Trending Topics do Twitter, com 37 mil menções.

O perfil da @bbcbrasil foi ágil ao postar reportagem sobre a influência do Freire nos meios acadêmicos internacionais: “O educador Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, foi chamado de ‘energúmeno’ pelo presidente Bolsonaro nesta 2ª. Mas como o seu legado é visto no exterior? Freire é um dos pensadores mais citados em trabalhos acadêmicos em todo o mundo.”

Em dois tuítes, o senador pela Rede @ContaratoSenado, constatou: “1. Bolsonaro passará e Paulo Freire não! Ele ataca o nosso maior professor por mesquinhas razões: trata-se do autor que nos ensina a pensar. E isso não interessa ao desmonte desumano e capitalista do seu governo subserviente.”

​@ContaratoSenado “2. Cabe dizer que Paulo Freire não precisa pedir passagem a Bolsonaro. A ‘Pedagogia do Oprimido’ foi traduzida em + de 20 idiomas. Em 2016, estudo do professor Eliott Green London School of Economics, a apresenta como terceira + citada em trabalhos da área de humanas do mundo!”

 

A jornalista do @estadao e da @eldoradoradio desabafou: @RitaLisauskas “Não vou repercutir os absurdos do despresidente contra um dos pesquisadores brasileiros na área da Educação mais citados e homenageados em todo o mundo. Quem tem dois neurônios sabe da importância de Paulo Freire. Eu não tenho culpa do Brasil ter se transformado em um imenso CQC.”

Já o economista e jornalista @Rconstantino discordou em parte da fala do presidente, atribuindo outro sentido ao termo pespegado por ele: “Eu não acho que Paulo Freire era um energúmeno; acho que era um EMBUSTEIRO, e um inteligente, deliberadamente obscuro e ‘enigmático’, embromador, comunista, adorador de tiranos, e por isso fez um terrível mal ao Brasil. Seria melhor se fosse apenas um idiota...”

Dias antes, o ministro da Educação já havia ido ao Twitter defender o corte: @AbrahamWeint “A militante ‘reclama’ da não renovação Roquete Pinto/TV Escola. Deixo claro: defendo reduzir o Estado. Já pagamos muito imposto. O contrato, caindo pela metade, era de R$ 350 milhões por 5 anos. Tem coisa melhor a fazer com esse dinheiro. O dia que não tiver, corte-se impostos.”

Colunista da @RevistaEpoca e @cbnoficial, @guilherme_amado ouviu a ex-mulher do educador, Ana Maria Freire: “‘@jairbolsonaro tem um pouco de inveja também, (queria) ser como Paulo foi, mas não pode, não consegue’, diz viúva de Paulo Freire, após o presidente chama-lo de ‘energúmeno’.”

O escritor @paulocoelho desconfiou das intenções da fala de Bolsonaro: “O presidente tem medo de ser esquecido pelas bases se não disser algo absurdo 1 vez por dia (hj foi o Paulo Freire). Declarações planejadas com mt cuidado nos subterrâneos do Planalto.”

Foi lembrado e retuitado um post do serviço brasileiro do jornal francês @diplobrasil no dia 3, constatando a pouca influência da pedagogia freireana nas escolas públicas do país: “A elite brasileira, que adora odiar Freire, compra a peso de outro para seus filhos o ingresso em colégios influenciados por ele. Aos filhos dos pobres, resta a disciplina escolar do século XIX.”

O economista @eduardomoreira foi quem se ateve à terminologia na discussão: “Para entender a diferença entre Paulo Freire e Bolsonaro: Bolsonaro chama Paulo Freire de ‘energúmeno’ e cria revolta, polêmica e ganha as primeiras páginas de todos os jornais e sites. Se qualquer um chamar Bolsonaro de ‘energúmeno’ não conseguirá sequer uma notinha de rodapé.”

Tempo fechado 

O fracasso da Cúpula do Clima em Paris, atribuído em grande parte à obstrução brasileira, também foi tema do Twitter no início da semana. A diretora da @agenciapublica de jornalismo repercutiu apuração feita pela Folha na COP 25: @VianaNatalia “Textos de negociadores de diversos países classificaram a tática brasileira de ‘chantagem imatura’.”

O ministro do Meio Ambiente foi à plataforma aparentemente lamentar: @rsallesmma “COP 25 não deu em nada. Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e hipocrisia andaram de mãos dadas, o tempo todo.”

Senador pela Rede Sustentabilidade, @randolfeap não acreditou nas palavras do ministro: “CANALHA!! Mil vezes CANALHA!! O Governo torna o Brasil um pária ambiental e o mundo caminha para uma emergência climática. E o sujeito ainda comemora o fracasso.”

Promessa é dívida 

Descartada, por ora, diante da resistência de setores militares e do próprio Itamaraty, a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém foi alvo de cobrança por parte do premiê israelense no domingo (15):

@netanyahu “Hoje o Brasil abriu um escritório da APEX em Jerusalém como parte do fortalecimento das relações entre nossos países. Quero agradecer meu amigo presidente @jairbolsonaro pelo compromisso de abrir uma embaixada em Jerusalém no próximo ano.”

Não passou despercebido o fato de Bibi ter feito questão de marcar o perfil de Bolsonaro no “agradecimento”.

Boas festas 

Esta coluna volta na terça-feira, 7 de janeiro.

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