Jerson Kelman

Engenheiro, foi professor da Coppe-UFRJ e dirigente de ANA, Aneel, Light, Enersul e Sabesp

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Jerson Kelman

O custo do climatologicamente correto

Transformar resíduos orgânicos da agricultura em biocarvão é vantagem brasileira pouco estudada

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"Prêmio verde" é a diferença de custo entre produtos com e sem uso de combustíveis fósseis na cadeia produtiva. Países "climatologicamente corretos" (cc), que optem pela descarbonização de suas economias, produzirão numa fase inicial bens mais caros do que países "climatologicamente incorretos" (ci). Portanto, os cc podem ficar temporariamente menos competitivos e com menos recursos para os investimentos de adaptação às mudanças climáticas.

Mercados de créditos de carbono visam amenizar o custo da transição de ci para cc, induzindo mudanças nos processos produtivos em que seja mais fácil diminuir a emissão de carbono. Como o efeito estufa tem escala global, deveria existir um único mercado global. Mas não é assim que a banda toca.

Países desenvolvidos apostam que o esforço de transição de ci para cc ensejará avanços tecnológicos que diminuirão o prêmio verde, talvez até tornando-o negativo. A aposta, sendo bem-sucedida, ajudará a mantê-los na liderança econômica do mundo.

O Brasil deve realizar a transição levando em consideração as nossas vantagens comparativas. Temos a possibilidade de exportar bens com baixo conteúdo de carbono, produzidos com energia renovável, que aqui está sobrando. Ou preservar as florestas, na forma de prestação de serviço ambiental. Ou ainda comercializar créditos de carbono derivados do replantio em pastagens degradadas, que aqui também há em abundância.

Pastagem degradada em área desmatada na APA do Rio Pardo, que integrava a Floresta Nacional Bom Futuro - Lalo de Almeida/Folhapress

O governo aposta nessas possibilidades ao conceder 15 mil hectares da Floresta Nacional do Bom Futuro (RO) e ao planejar o lançamento do fundo internacional Florestas Tropicais para Sempre, na COP30.

Todavia, para que essas estratégias deem certo, é preciso que os países desenvolvidos estejam dispostos a remunerar os serviços ambientais e que suas empresas queiram comprar tanto produtos com baixo conteúdo de carbono, feitos com nossa energia renovável, quanto créditos florestais de carbono.

Lamentavelmente, o atual cenário global não é promissor.

Primeiro, porque tem diminuído o interesse pela descarbonização da economia nos países desenvolvidos devido ao fortalecimento de forças políticas nacionalistas, que estão mais preocupadas com a segurança energética do que com a transição energética, que é inflacionária.

Segundo, porque tem aumentado a oposição à comercialização de créditos de carbono florestais devido à possibilidade de que incêndios devolvam à atmosfera o carbono anteriormente sequestrado pela fotossíntese.

Nesse cenário inóspito, temos uma vantagem comparativa ainda pouco estudada: a transformação de resíduos orgânicos da agricultura em biocarvão, via pirólise (incineração sem oxigênio). O biocarvão, quando aplicado no solo, aumenta a produtividade agrícola e sequestra carbono sem possibilidade de contestação.

Imagem mostra máquinas movimentando bagaço de cana em unidade da Raízen produtora de etanol de segunda geração em Guariba (SP)
Máquinas movimentam bagaço de cana em unidade da Raízen produtora de etanol de segunda geração em Guariba (SP) - Marcelo Toledo/Folhapress

Recente edição do "Energy Report" (PSR) estima que a transformação do bagaço de cana no Brasil em biocarvão resultaria no sequestro anual de 100 milhões de toneladas de CO2eq, quantidade equivalente ao mercado regulado de carbono do Reino Unido.

A depender dos preços, tanto da energia elétrica quanto do crédito de carbono, essa rota poderia ser mais lucrativa do que usar o bagaço na produção de eletricidade.

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