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PCC expulsa empresa de Paraisópolis e coloca em risco obra de R$ 100 milhões

Prefeitura diz que prestará apoio aos órgãos de investigação; Secretaria da Segurança diz que assunto será investigado e PM apoiará processo de reintegração; operação ocorre nesta terça (3) no local

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Área em Paraisópolis ocupada onde antes era feita uma obra contratada pela Prefeitura de São Paulo - Bruno Santos / Folhapress

São Paulo

Uma ação do crime organizado na favela de Paraisópolis, na zona sul da capital, coloca em risco o projeto de canalização de córrego Antonico, orçado em mais de R$ 100 milhões, e desafia mais uma vez o poder público em conseguir atuar em um dos principais redutos do PCC na capital paulista.

Conforme moradores ouvidos pela Folha, criminosos da facção expulsaram no começo do mês os trabalhadores da empresa que atuavam no interior da favela e determinaram a ocupação das faixas no entorno do córrego, que estavam limpas por conta da remoção de casas que vem ocorrendo desde 2022.

Registros fotográficos feitos pela reportagem com a utilização de um drone, comparados com imagens de satélite de meses atrás, mostram a construção de novas habitações em ambas as margens do córrego, um trecho de cerca de 500 metros que já estava descampado pelo trabalho da empresa contratada.

Parte das novas casas está praticamente pronta, com telhados já instalados, e outra é de barracos de madeira sendo erguidos. Conforme os moradores, a instalação de edificações de madeira é o primeiro passo da ocupação do espaço. Em seguida, vem as construções de alvenaria, como no resto da favela.

Google Earth
Imagem de satélite mostra margens do córrego Antonico, próximo à rua Itajubaquara, em Paraisópolis, antes de serem ocupadas por famílias - Google Earth

Nesta terça (3), a prefeitura retomou os trabalhos com a demolição de cerca de dez casas construídas em área de risco às margens do Antonico. As remoções dependiam de decisão judicial, expedida na véspera, para a reintegração da posse ao município, diz o secretário municipal de Habitação, Milton Vieira.

"Algumas famílias não quiseram sair, mas eram poucas, por isso esperávamos a reintegração de posse. Nesse intervalo, construíram algumas casas ali. Dizem que foi o PCC, eu não sei se foi, o que nós precisávamos era da decisão judicial, que saiu ontem", afirma Vieira.

Ainda conforme moradores, as novas famílias que estão ocupando os espaços não seriam da própria favela. Seriam pessoas trazidas de outros lugares por integrantes do PCC e podem estar sendo usadas pelo crime em suposta tentativa de extorquir o poder público com pedidos de indenizações.

Os moradores dizem, ainda, que no entorno no local invadido, próximo à rua Itajubaquara, os criminosos colocaram seguranças armados para impedir o retorno dos funcionários ou de representantes da prefeitura. Até mesmo os vizinhos se dizem intimidados.

O clima é considerado tenso em toda a favela, até por conta de um suposto racha entre correntes internas do próprio PCC. Isso estaria inviabilizando o diálogo entre o crime e as tradicionais lideranças da comunidade, cuja representatividade passou a ser ameaçada de forma inédita.

O principal traficante da favela, segundo a polícia, é Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, que deixou a prisão em 2021 e, desde então, estaria morando fora do país. O advogado dele nega.

A canalização do córrego Antonico, a partir de Paraisópolis, é considerada a principal obra para tentar reduzir os alagamentos na própria favela e também na região do estádio do Morumbi. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas serão beneficiadas, ações feitas em parceira da prefeitura e governo do estado.

Em outros trechos fora da favela, as obras continuam.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo, gestão Ricardo Nunes (MDB), informou que as intervenções no Antonico abrangem "canalização, remoção de construções em áreas de risco, readequação de unidades habitacionais e implantação de redes de drenagem, água e esgoto, além de pavimentação".

"Os seis trechos sob responsabilidade da Sehab [Secretaria Municipal de Habitação] receberão investimentos de aproximadamente R$ 113 milhões. Até o momento, cerca de R$ 30,6 milhões foram investidos em obras, desapropriações e indenizações", diz nota.

Sobre a ação dos criminosos, o município diz que vai colaborar com a polícia, essa de responsabilidade do governo estadual. "Qualquer demanda por parte das autoridades responsáveis pelas investigações contará com a colaboração desta administração", finaliza o município.

A Secretaria da Segurança, gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou que no último dia 12, representante da empresa expulsa pelos criminosos registrou boletim de ocorrência pela Delegacia Eletrônica relatando invasões ao local.

"O caso foi registrado como não criminal, por não haver relato de crime. A Polícia Civil vai apurar as denúncias citadas pela reportagem e se coloca à disposição das vítimas para ouvi-las e colher informações que possam auxiliar na identificação dos autores", diz trecho da nota.

Ainda conforme o governo estadual paulista, a na última quarta (28), a Polícia Militar participou de uma reunião "com os órgãos envolvidos no processo de reintegração de posse e prestará apoio à Justiça".

A Folha procurou a Transvias, apontada como responsável pelo trecho da obra, mas os representantes não quiseram se manifestar. A reportagem também tentou desde a última segunda (26) contato com as lideranças de Paraisópolis, mas eles não atenderam a reportagem.

Colaborou Clayton Castelani

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