Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Em SP, pandemia gera alterações no sono, abandono dos estudos e mulheres mais afetadas que homens

Pesquisa da Rede Nossa São Paulo mostra o impacto da Covid sobre paulistanos e paulistanas

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Imagine a cena: estudantes abandonando os estudos enquanto suas mães, inconformadas, estampam profundas olheiras nas cada vez mais longas filas de espera para as consultas médicas. Esse poderia ser o trailer se a pesquisa lançada na terça (25) sobre impactos da pandemia na saúde e na educação fosse um filme. Corta! E, como sempre é recomendável um ar romântico na cena final (porque ninguém é de ferro), terminaria com um discreto sorriso dessa mãe, consciente da importância do atendimento gratuito e universal da saúde, a aplacar as agruras do cotidiano e da pandemia.

Saúde e educação são de longe os temas mais citados pela população em qualquer pesquisa feita nas cidades —especialmente em um país desigual como o Brasil, onde aproximadamente 75% das pessoas dependem da saúde pública e 85%, da educação pública.

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo, realizada em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), mostra que 21% das paulistanas e paulistanos afirmam que algum estudante pelo qual é responsável desistiu ou abandonou as aulas por causa da pandemia.

Ilustração de Olivia Abrahao
Ilustração de Olivia Abrahao - Olivia Abrahao

Sobre a retomada das aulas presenciais, 86% concordam total ou parcialmente que o risco de contágio ainda é muito alto e 84% concordam total ou parcialmente que as dificuldades de conexão com a internet impossibilitam o acompanhamento adequado das aulas. Atualmente, cerca de 70% da população paulistana não possui plano de saúde, e 67% desenvolveu pelo menos um dos sintomas de alteração na física ou mental durante a pandemia.

A pesquisa revela que os principais desafios enfrentados por quem utiliza os serviços públicos de saúde são a demora para conseguir consulta com especialistas, apontado por 65%; demora para atendimento em postos, centro de saúde ou hospitais, mencionado por 48%; e a superlotação dos serviços, citado por 43% dos participantes.

Já em relação às principais qualidades dos serviços de saúde públicos, 53% afirmam ser a oferta de serviço de saúde gratuito; 47% mencionam o atendimento para todas as pessoas, independentemente da nacionalidade ou condição social; 45%, a distribuição gratuita de medicamentos; 41%, a oferta gratuita de vacinas.

A pesquisa mostra também que 67% da população paulistana desenvolveu pelo menos um dos sintomas listados durante a pandemia: alterações no sono (50%); mudanças repentinas de humor e/ou irritabilidade (44%); angústia e/ou medo (43%;) alteração alimentar (37%); sinais ou sintomas de ansiedade (33%); e tristeza ou choro fácil (31%).

A pandemia impactou uma proporção maior de mulheres (76%) na comparação com homens (57%). Entre as mulheres, 58% tiveram alterações no sono (homens: 41%); 54% tiveram mudanças repentinas de humor e/ou irritabilidade (homens: 32%); 50% angústia e/ou medo (homens: 34%); 43% alteração alimentar (homens: 30%); 41% tristeza ou choro fácil (homens: 19%); 39% sinais ou sintomas de ansiedade (homens: 25%).

O impacto das aulas remotas na educação entre mães, pais e responsáveis é nítido: 81% concordam totalmente ou em parte que estudantes tiveram dificuldade emocionais/psicológicas durante o período de isolamento social; 79% concordam totalmente ou em parte que estudantes tiveram dificuldades com infraestrutura/espaço e 76% concordam totalmente ou em parte que estudantes tiveram dificuldade para acessar as aulas transmitidas pela internet, entre outros resultados.

Já para alunas e alunos, os principais impactos da pandemia são o aumento da desigualdade (52%), piora no aprendizado (48%) e evasão escolar (39%). Para profissionais da educação os principais impactos são: maior desinteresse de estudantes durante a aula (45%); demissões (35%;) adoecimento/problemas de saúde (34%); redução de salários (34%) aumento de cobranças/pressões (33%) desvalorização do trabalho (31%) e aumento de jornada de trabalho (23%).

A pesquisa mostra, ainda, que 21% declaram que alguma criança ou adolescente pelo qual é responsável desistiu ou abandonou as aulas por causa da pandemia. Dificuldade de acesso às aulas (57%), falta de equipamentos necessários (38%) e a falta de concentração (34%) são os três principais motivos da desistência ou abandono.

Sobre a retomada das aulas presenciais, 86% concordam total ou parcialmente que o risco de contágio ainda é muito alto; 84%, que as dificuldades de conexão com a internet impossibilita o acompanhamento adequado das aulas; 81%, que as escolas não têm estrutura para garantir que as crianças e profissionais da educação não sejam contaminadas(os) durante as aulas presenciais; 77%, que aulas remotas têm qualidade muito inferior e 66%, que estudantes em casa dificultam o trabalho de mães e pais.

Não deixou de aflorar a sensibilidade da população ao reconhecer que as pessoas que são obrigadas a trabalhar fora e utilizar o transporte coletivo deveriam ter prioridade na vacinação.

A partir dessas respostas fica evidente a importância de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população. O fortalecimento do acesso ao serviço público de saúde com mais postos, equipamentos e profissionais; a melhoria da infraestrutura física e tecnológica das escolas; o suporte aos docentes e ações relacionadas à sobrecarga das mulheres em uma sociedade machista como a brasileira, são algumas das mensagens que podem ser tiradas da pesquisa.

O grande desafio dos governos será deixar ser afetado pela pandemia e se atualizar em relação às necessidades das pessoas e das cidades. Caso contrário, envelhecerá e perderá apoio rapidamente, incapaz de aprender as lições deste momento.

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