José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Descrição de chapéu COP28 mudança climática

Brasil na Opep+ seria mistura de novela, filme de suspense e comédia dramática

Estamos todos no mesmo barco furado da crise climática, tentando remar para um futuro de energias renováveis

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No dia seguinte ao encerramento da COP28, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) organizou um grande leilão de petróleo, ofertando 603 blocos para exploração em diversas regiões do país.

Mas seria mesmo a COP? Esse festival anual de promessas climáticas onde líderes mundiais, ambientalistas e empresas se reúnem. O que realmente acontece por trás das cortinas verdes dessa conferência?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na Cúpula Mundial de Ação Climática durante a COP28 - Thaier Al Sudani - 1.dez.23/Reuters

Talvez seja apenas turismo "ecoconsciente". Quem não gostaria de discutir a crise climática em locais exóticos? As fotos são ótimas para o Instagram! Ou simplesmente reuniões de negócios. Afinal, que melhor lugar para negociar acordos sob o disfarce de salvar o planeta?

Tem príncipes árabes? Eles realmente sabem como jogar o jogo. Enquanto discutem sobre a redução dos combustíveis fósseis, seus reinos continuam a faturar petróleo a todo vapor. Ironia refinada a 98 octanas!

Por último, mas não menos importante… Seriam as viagens públicas financiadas pelos contribuintes? Como em um passeio escolar, mas com menos supervisão e mais jatos privados. Afinal, o que é uma pequena pegada de carbono em nome da grande causa ambiental?

Ironia? Apenas coincidência? Este leilão, descrito de forma dramática pelos ambientalistas como o "leilão do fim do mundo", tem o potencial de emitir mais de 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente na atmosfera, caso seja bem-sucedido, o que corresponde a quase metade das emissões atuais do Brasil.

Além disso, mais de 94% dos blocos violam pelo menos uma diretriz ambiental da própria ANP, com 23 blocos sobrepondo-se a unidades de conservação e ameaçando territórios indígenas e quilombolas. São 366 km² de áreas sensíveis sob risco direto.

Mas por que diabos o Brasil faria isso? Afinal, não estamos todos no mesmo barco furado da crise climática, tentando remar para um futuro de energias renováveis?

Tentemos dissecar essa novela mexicana tocada de petróleo e samba. Um Brasil gigante verde e amarelo, entrando no clube do Bolinha dos barões do petróleo. Cartel. Diz-se.

É aqui que a história fica picante. A adesão à Opep+ parece uma contradição mais confusa que a novela das oito. Por um lado, temos o Brasil com planos ambiciosos de aumentar a produção de petróleo, e por outro, a Opep+ agindo como um monopolista, cortando produção para manter os preços lá em cima.

Mas não é só isso. Há também a política. Juntar-se a esse clube pode significar abraçar regimes teocráticos, autocráticos ou monárquicos, que não são exatamente modelos de democracia.

E há o contrassenso climático. O Brasil, querendo ser líder no debate climático mundial, pensando em se juntar a um grupo que, segundo muitos, faz de tudo para sabotar a agenda climática.

Em resumo, o Brasil nessa Opep+ seria uma mistura de novela, filme de suspense e comédia dramática. Uma jogada que pode ser vista como um passo rumo ao futuro ou um salto para o passado, dependendo do ângulo (e da quantidade de petróleo no copo).

Vamos aguardar os próximos capítulos dessa saga. Com pipoca? Com biodiesel? Ou deveríamos dizer "com vergonha"?

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