José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Apagão global cibernético evidencia falta de investimento no Brasil

País tem a oportunidade de aprender com erros e investir em pessoas, processos e tecnologia

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Na semana passada, um apagão cibernético generalizado paralisou várias nações, expondo vulnerabilidades em infraestruturas digitais e causando danos significativos. Curiosamente, o Brasil passou quase ileso pelo incidente. Será que estamos em um nível de segurança muito avançado?

Especialistas dizem que não e levantam questões sobre o estado da segurança cibernética no país. Esse aparente paradoxo merece uma análise mais aprofundada.

Passageiros formavam fila no aeroporto da Cidade do México, depois da crise da Crowdstrike afetar a aviação mexicana no dia 19
Passageiros formavam fila no aeroporto da Cidade do México, depois da crise da Crowdstrike afetar a aviação mexicana no dia 19 - Francisco Canedo/Xinhua

Cristiano Breder, especialista com décadas de experiência em empresas multinacionais dedicadas à proteção de sistemas digitais, é pragmático. "O Brasil não foi impactado pelo apagão porque está atrasado em termos de inovação e investimento em infraestruturas cibernéticas."

O paradoxo é apenas aparente, porque a falta de investimento, embora seja um problema dramático, acabou funcionando como uma proteção não intencional. Como naquela história na qual um "homem das cavernas", por estar isolado das tecnologias modernas, nunca corre risco de ser atacado por hackers.

Apesar da ausência de danos imediatos no Brasil, isso não é motivo de comemoração. Pelo contrário. É um sinal de alerta para a necessidade urgente de investimentos sérios em segurança cibernética. A ignorância sobre os riscos e a falta de medidas adequadas são preocupantes.

Nesse caso não há vantagem nenhuma em ser brasileiro, se nada por feito, garante o meu amigo Cristiano, é só uma questão de tempo para sucumbirmos.

O Brasil tem a oportunidade de aprender com os erros dos outros países e investir em pessoas, processos e tecnologia. A resiliência cibernética não se trata apenas de prevenir panes, mas também de ser capaz de se recuperar rapidamente quando elas ocorrem. Todos os países vão cair um dia — como aconteceu agora com os mais seguros — mas rapidamente se levantaram. Como seria se fosse aqui?

A principal mensagem é clara: "Não existe proteção 100%". O Brasil precisa adotar uma postura proativa em relação à cibersegurança, utilizando esse momento para colocar empresas e instituições na mesma página sobre a importância de investimentos em segurança digital.

O Brasil não teve prejuízo agora porque está anos atrás da inovação, pesquisa e investimento em infraestrutura. Não é razoável ter orgulho em ser um hotel antigo que usa um chaveiro gigante e onde os hóspedes esquecem a devolução e levam a chave para casa no checkout.

O apagão da semana passada é um lembrete severo das verdadeiras vulnerabilidades digitais. Embora o Brasil tenha passado ileso desta vez, a complacência pode ser perigosa.

É preciso, sempre, investir em cibersegurança, desenvolver políticas públicas robustas, e educar profissionais e cidadãos sobre a importância da proteção digital.

Se tudo continuar assim no dia em que o Brasil sofrer uma pane séria, pode ter efeitos tão devastadores para a economia como aquele que em 1929, com o crash da bolsa e o fim da importação de carne, atirou a Argentina para a miséria.

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