Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris sugerem desespero

Capangas de Donald Trump escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar vice-presidente

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A intensidade dos ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende até os pessimistas observadores da política americana. A eleição, até há dias definida pela idade avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso declarado culpado de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e de uma cientista indiana que, à época em que foi promotora, colocou vários patifes como Trump na cadeia.

Sem noção de vergonha, sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, acena para a imprensa ao embarcar de Indianapolis, em Indiana, para Houston, no Texas, onde deve participar de um evento de campanha - Kamil Krzaczynski - 24.jul.24/AFP

Ela teria dormido com poderosos para chegar ao topo (mentira: Harris namorou publicamente o ex-prefeito de San Francisco quando ele já estava divorciado da mulher); a advogada, duas vezes vencedora da difícil eleição para procuradora-geral do estado quase nação da Califórnia que, em seguida, elegeu-se senadora, teria virado vice de Joe Biden como uma empregada DEI (acrônimo para diversidade, equidade e inclusão); a nativa californiana não poderia se eleger presidente porque seus pais nasceram no exterior (a Constituição garante: qualquer pessoa nascida nos EUA pode se candidatar). Repetir o "birtherismo" que tentaram com Obama, nascido no Havaí, parece desespero.

A hostilidade havia começado já na campanha Biden-Harris de 2020, e o vice da chapa de Trump deixou uma trilha de migalhas de pão digitais para provar.

Como J.D. Vance é o candidato a vice mais impopular desde 1980, é possível que ele tire mais jovens e minorias de casa para votar contra republicanos arrotando chocalhos raciais como acusar a democrata de "não sentir gratidão" por viver nos Estados Unidos. Um eleitor negro ouve esse comentário e arrasta até a avó de 90 anos para as urnas.

Como o destrambelhado Trump sofre de incontinência verbal e seu vice é um consumado lambe-botas, ambos não param de facilitar novos comerciais da campanha democrata. Nesta semana, Trump anunciou triunfal num comício que "Kamala não será a primeira mulher presidente". Ele erra a pronúncia —Kâmala— e se refere a ela como Kamála para humilhá-la pela origem imigrante. E ainda arrematou, "não vamos ter uma presidente socialista, especialmente se for mulher".

Um vídeo ridículo de J.D. Vance voltou a circular, no qual ele diz que a nova geração democrata, mencionando nominalmente Harris, a deputada latina Alexandria Ocasio-Cortez e o secretário de Transportes gay Pete Buttigieg, não passa de um bando de estéreis criadoras (no feminino) de gatos.

Harris tem dois enteados com o marido Doug Emhoff, Buttigieg adotou gêmeos e Ocasio-Cortez está noiva.

O fato é que 2024 não é 2016, quando Hillary Clinton enfrentou uma artilharia de misoginia escatológica como nenhuma outra política de projeção nacional nos EUA. Foi a campanha do áudio em que Trump se vangloriou de agarrar as mulheres pela vagina. Nestes oito anos, as mulheres americanas se organizaram melhor, disputaram e venceram mais eleições e estão em pé de guerra contra a volta da criminalização do aborto, cortesia da jurássica Suprema Corte.

Kamala Harris espera a baixaria que virá nos próximos cem dias. Mas uma filha de imigrantes, escoltada ainda criança para a escola no fim da segregação racial, não vira promotora se fica facilmente intimidada.

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