O Rei Pelé merece todas as homenagens possíveis e imagináveis.
Seu desejo de ser homenageado em vida é atendido mais uma vez.
O documentário da Netflix cumpre com a finalidade de mostrar quem foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos e de mostrá-lo aos que não o viram jogar, cada vez mais gente que, naturalmente, escolhe os contemporâneos Diego Maradona, Lionel Messi, Cristiano Ronaldo.
É como se fosse uma vingança contra os que tiveram o privilégio de contar um a um os quase 1.300 gols de Sua Majestade.
O documentário leva o tempo de um jogo de futebol com 18 minutos de acréscimos, mistura, imagine!, futebol com política ao não poupar a ditadura brasileira, tem momentos empolgantes, faz rir aqui e ali, lembra de um Pelé que até quem o viu desde o início pode ter esquecido e é, essencialmente, nostálgico, quase melancólico.
Porque o Rei envelheceu.
Porque o Rei, o Atleta do Século, vítima de erro médico, como revelou à Folha em abril de 2016, precisa de andador.
Qualquer ser humano aos 80 anos encara tais vicissitudes como previsíveis, normais. Mas não ele.
Primeiramente porque há sérias dúvidas sobre Pelé ser humano.
Nenhuma a respeito de não ser normal.
Como é óbvio que não merece a ironia da dificuldade em se locomover. Logo ele, capaz das maiores diabruras no latifúndio dos gramados pelo mundo afora ou no minifúndio da pequena área.
A primeira imagem de sua entrevista no documentário estabelece o clima que paira sobre todo o filme, com o andador posto de lado com certo desprezo e com o olhar vago e distante do Rei, como se à procura dos súditos.
Pelé é criticado por não ter se oposto à ditadura, porque as pessoas adoram cobrar heroismo com o pescoço alheio.
Se ele se posicionasse politicamente como em campo não seria Rei, seria Deus.
Pelé, é claro, chora. E ri.
Você também irá rir e sentirá vontade de chorar.
Embora saiba ser o Rei Pelé imortal enquanto durar.
Aliás, durará para sempre.
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