Na Inglaterra a maior rivalidade no futebol não se dá entre dois clubes londrinos, nem entre os dois de Manchester, muito menos entre os dois de Liverpool.
A maior rivalidade no Reino Unido acontece entre os dois maiores campeões nacionais, o Manchester United, com 20 títulos, e o Liverpool, com 19.
A distância entre as duas cidades é pequena, cerca de 60 quilômetros, mas a rivalidade é enorme.
O chamado North West Derby nasceu em 1894, ocorreu pela 209ª vez na última terça-feira (19), na cidade dos Beatles, e terminou com a vitória dos Reds por 4 a 0.
O que não teve importância maior, embora tenha colocado o Liverpool na liderança da Premier League, dois pontos à frente do Manchester City, o rival local do United.
A nós, brasileiros, poderia ocorrer a possibilidade de marmelada, para dificultar a vida do City que, nos últimos anos, tomou a hegemonia do United. Mas nem pensar!
Os torcedores do United preferem ver os vizinhos em festa do que os habitantes de Liverpool.
Repita-se, no entanto, nada disso teve a menor importância diante do que fizeram os torcedores no estádio de Anfield.
Aos sete minutos do jogo, a torcida vermelha entoou em alto e bom som a música "You’ll Never Walk Alone", que embala o time desde 1963. Mas não para o time, que já vencia por 1 a 0.
A canção foi dedicada ao maior jogador do maior rival, Cristiano Ronaldo, o CR7, ausente do clássico.
O extraordinário craque português amargava o luto pela perda, no parto, do menino gêmeo que viria junto com a irmã no dia anterior ao clássico.
"É com a mais profunda tristeza que comunicamos o falecimento do nosso bebê. É a maior dor que quaisquer pais podem sentir. Só o nascimento da nossa bebê nos dá forças para viver este momento com alguma esperança e felicidade. Gostaríamos de agradecer aos médicos e enfermeiros por todo o cuidado e apoio disponibilizados. Estamos devastados e pedimos privacidade neste momento tão difícil. Você é o nosso anjo. Vamos te amar para sempre", escreveu Cristiano.
Pois a torcida adversária não o deixou caminhar sozinho e com ele se solidarizou numa cena das mais belas e tocantes já vivida num estádio de futebol.
Impossível vê-la, ou revê-la, sem se comover.
Uma lição sobre ser adversário sem ser inimigo, de humanismo acima de rivalidade, de solidariedade além da competição.
Deu até a sensação de que a humanidade tem jeito.
Já no Brasil...
Por aqui, no país em que o filho do presidente da República tentar fazer graça com a tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão, e em que o vice-presidente da República minimiza a constatação gravada no Superior Tribunal Militar que deu conta do conhecimento dos ministros, generais, almirantes e brigadeiros, da existência das sevícias de prisioneiros que deveriam estar sob a proteção do Estado, Flamengo e Palmeiras jogarão com torcida única no Maracanã, distante 400 quilômetros de São Paulo.
A direção rubro-negra devolveu a atitude da alviverde em Campeonato Brasileiro passado.
Daí parecer a História da Carochinha a ideia da Liga Brasileira de Clubes de Futebol.
Porque se por aqui a cartolagem paulista não se entende com a carioca que não se entende com a mineira que não se entende com a gaúcha, como esperar o dia de todos se sentarem à mesma mesa?
Melhor esperar sentado e mostrar Liverpool à cartolagem que nos assola há décadas.
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