Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Por que evangélicos são excluídos da cena literária do Brasil?

Editoras e feiras literárias evitam debate sobre religião, apesar do interesse popular pelo tema

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"Por que a literatura evangélica não faz parte do mainstream da literatura nacional? E por que evangélicos são marginalizados pela elite cultural e literária do Brasil?," questiona Marcos Simas, um veterano com mais de 30 anos de experiência no mercado editorial e especializado no segmento de livros religiosos no Brasil. "Vamos ser honestos: eventos literários como a Flip discriminam os leitores religiosos," critica.

Em relação a evangélicos, o problema não se limita às divergências no campo político, entre progressistas e conservadores, por causa das pautas morais. "Existe a percepção de que crentes pensam de maneira uniforme e que não têm interesse em artes e literatura, o que é falso." Ele cita o caso de igrejas históricas como a Presbiteriana e a Metodista, que fundaram instituições de ensino respeitadas. E lembra também da importância de atividades como a chamada escola bíblica dominical, recorrente em igrejas evangélicas, que promovem a prática da leitura e da interpretação de textos em bairros periféricos em todo o país.

Essa influência da igreja na promoção da escolaridade aparece em dados estatísticos. A pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", realizada pelo Instituto Pró-livro, registra que o evangélico lê em média 7,1 livros por ano, mais do que a média da população.

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Joel Muniz na Unsplash

Esse interesse que evangélicos e outros religiosos têm pela leitura se reflete ainda nos resultados financeiros do setor editorial. O volume de exemplares vendidos na categoria religião perde apenas para a de livros didáticos no Brasil, tendo gerado um faturamento de R$ 558 milhões em 2017, segundo dados da Fipe. A mesma pesquisa revela que livros religiosos venderam naquele ano quase três vezes mais exemplares do que literatura adulta e mais de quatro vezes mais do que aqueles classificados como autoajuda.

Editoras seculares deveriam estar ávidas por disputar esse mercado lucrativo, e de fato estão, mas o fazem discretamente. Livros dessa categoria muitas vezes são identificados de forma genérica como "história", "pensamento ocidental" ou "autoajuda". Assim essas empresas não perdem prestígio diante da elite intelectual, que frequentemente menospreza o que está associado à religião, especialmente ao cristianismo evangélico, considerado uma expressão religiosa de segunda classe, caracterizada pelo discurso de autoajuda e pelo culto ao dinheiro.

A Flip vem radicalizando a proposta de diversificar os autores da promoção, abrindo debates sobre raça e gênero. Mas, contraditoriamente, ao se distanciar da temática da religião, ela limita as possibilidades de diálogo com um segmento que inclui 70 milhões de brasileiros. E reduz também a chance de atrair uma parte importante de evangélicos pobres que, a partir da Bíblia, procuram alternativas de livros para consumir.

spyer@uol.com.br

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