Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Evangélicas debatem igualdade de gênero, indiretamente

Feliciano desencoraja cristãos a recorrerem à polícia em meio a debate sobre estupro

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Por que o atentado contra o ex-presidente Donald Trump quase não repercutiu no campo evangélico brasileiro?

Cristãos conservadores nos EUA viram o caso como um sinal da intervenção divina. Ao aceitar a indicação para concorrer à Presidência, na quinta-feira após o ataque, Trump recorreu à religião; disse que a presença de Deus o acalmou no momento em que foi alvejado. Mas, em vez de falar sobre o livramento do presidenciável, grupos de WhatsApp evangélicos no Brasil debatem sobre estupro.

Em maio, circulou a notícia do pastor preso nos EUA por molestar uma menina de cinco anos. A vítima e sua família são brasileiros, e o pastor é casado com a cantora gospel brasileira Heloísa Rosa. A temperatura voltou a subir no início deste mês por causa de um áudio vazado de um evangélico conhecido, o apóstolo Luiz Hermínio, sobre o caso.

Mulheres durante o projeto "Quero Casar", com evangélicas interessadas na causa, no hotel Sheraton, na zona sul do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Hermínio relativizou a denúncia afirmando que a vítima não foi penetrada. A fala reacendeu o debate sobre igrejas que acobertam pastores abusadores. Na semana passada, Hermínio veio a público assumir o erro e pedir perdão à menina e aos pais dela.

As denúncias de omissão vêm de dentro das igrejas. Nomes admirados em círculos conservadores, como o pastor Yago Martins e a teóloga Norma Braga, romperam o silêncio sobre acusações abafadas de assédio, violência doméstica, estupro e pedofilia.

Aqueles que denunciam sofrem represálias. "Vão me tirar de algumas conferências (religiosas), de algumas editoras, talvez me deixem de fora de algumas reuniões e eu fique mal-falado em alguns círculos", disse Martins no início do vídeo "Grandes teólogos que encobrem abusos em suas igrejas".

Líderes justificam a decisão de esconder denúncias dizendo que o escândalo prejudica todos os que fazem a obra de Deus. Não se deve "manchar a igreja". O deputado Marco Feliciano falou este mês que "delegacia de crente se chama círculo de oração". Ou seja, em vez de ir à polícia o cristão deve entregar o problema para Deus.

Na prática, pastores acusados recebem punições brandas (como orar e se declarar arrependido). Já vítimas e familiares que prestam queixas na polícia frequentemente são desligados de suas comunidades de fé e perdem, com isso, suas redes de apoio e solidariedade.

A mulher que se incomoda com isso e reage é atacada como "feminista". Falar sobre estupro marital, então, é uma "sandice", me diz uma interlocutora, porque eles entendem que o corpo e o prazer da esposa pertencem ao seu marido.

Assim, a desigualdade de poder entre homens e mulheres se torna uma ferida inflamada nas igrejas e deve ser um tema sensível nas próximas eleições presidenciais.

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