Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

O futuro da TV é Cazé?

Nas Olimpíadas, canal do YouTube uniu espírito moleque e profissionalismo

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Durante as Olimpíadas de Paris, ocorreram duas competições simultâneas: uma entre os atletas em suas modalidades e outra entre a CazéTV e a Globo, disputando para ver qual faria a melhor cobertura e conquistaria mais audiência.

O assunto em debate não é o esporte, mas modelos de negócios e o futuro do veículo de comunicação que reina soberano no Brasil há 50 anos. Mas como determinar quem venceu essa batalha entre Davi e Golias?

A maneira mais óbvia de fazer isso é comparando os resultados de audiência. A Globo estimou que cerca de 140 milhões de pessoas assistiram aos Jogos por meio dela, enquanto a CazéTV reportou 41 milhões de dispositivos acessando seu conteúdo, gerando 5 bilhões de visualizações. São dados diferentes, não dá para comparar.

A Globo provavelmente levou vantagem entre espectadores mais velhos e aqueles que vivem em áreas sem acesso à banda larga.

A imagem mostra dois homens tirando uma selfie. O homem à esquerda tem cabelo encaracolado e uma barba espessa, vestindo uma camiseta preta com a palavra 'Gorilla' em amarelo. Ele faz uma expressão engraçada, mostrando a língua. O homem à direita usa óculos escuros e uma camiseta branca com um logotipo da Rip Curl. Ele sorri e segura uma medalha de bronze pendurada no pescoço. Ao fundo, há uma vista de uma cidade e uma estrutura de palha.
Diogo Defante, da CazéTV!, com o surfista Gabriel Medina - @diogodefante/no Instagram

Por outro lado, a CazéTV ofereceu vantagens para moradores de cidades, não apenas jovens. Por exemplo, disponibilizou o conteúdo no YouTube, um ponto de encontro popular e aberto. A Globo exige que sua audiência acesse o GloboPlay, o "cercadinho" da empresa na internet.

O YouTube não é apenas um espaço com mais pessoas. Eventos com grande audiência ganham destaque na plataforma através de algoritmos de recomendação, gerando ainda mais audiência. E diferente da lógica da difusão, a transmissão na internet continua a atrair espectadores após o evento.

Globo e CazéTV também competiram no campo da estratégia e da linguagem. A Globo fez a cobertura das Olimpíadas como um exército bem treinado; tudo funciona conforme o manual e cada peça tem seu lugar. A CazéTV, por sua vez, adotou táticas de guerrilha. Trocou sofisticação e controle por uma abordagem descontraída, típica da internet, onde erro e improviso sinalizam autenticidade.

A imagem mostra duas mulheres sorrindo em uma selfie. A mulher à esquerda tem cabelo liso e loiro, vestindo uma camiseta preta com um desenho colorido. A mulher à direita tem cabelo preso e está segurando uma medalha de bronze, vestindo um casaco azul escuro com detalhes em amarelo. Ao fundo, é possível ver a Torre Eiffel iluminada à noite.
A jornalista Fernanda Gentil com a judoca Rafaela Silva - @gentilfernanda /no Instagram

No quesito polêmica, a CazéTV venceu por WO. Seus apresentadores discutiram fofocas sobre a seleção feminina de vôlei, além de afirmarem que atletas sem chances de medalhas vão para os jogos para "comer gente". E polêmica engaja.

O resultado das transmissões não mostra que a Globo tenha sido superada, mas que ela enfrenta dificuldades para se reinventar, apesar de seu tamanho e força. Neste momento, ela perde para si mesma.

A CazéTV evita o embate, se apresentando como um canal para jovens. Apesar do nome despretensioso, seu pacote mistura online e offline, conteúdo grátis e monetização, planejamento e experimentação. Mais do que vencer, eles mostram o que essa fórmula possibilita fazer. E indicam o rumo do futuro.

spyer@uol.com.br

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