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AMLO e sua quarta transformação

As eleições legislativas no México podem significar a continuidade do projeto que compõe a coalizão governante

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Aldo Adrián Martínez-Hernández

Professor e pesquisador associado no Departamento de Ciência Política e Administração Pública da Universidade Autônoma de Aguascalientes. Doutor em ciência política pela Universidade de Salamanca. Integrante do Sistema Nacional de Pesquisadores do México (SNI/CONACYT).

Quase três anos após o triunfo de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) e o surgimento do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), as eleições do próximo 6 de junho são vistas como catalisadoras da hegemonia eleitoral dessa organização política e, com ela, a continuidade da chamada quarta transformação da política mexicana.

Transformação que é reivindicada pelo partido agora governante e que, mais do que um programa do governo, tem sido usada como um slogan de campanha desde sua chegada ao poder.

A quarta transformação, conhecida como "4T", tem sido o argumento mais poderoso para a mudança política no país e o slogan, aplaudido pelo partido no poder e pelo presidente.

O eixo central sobre o qual o 4T gira alude a um momento de mudança no sistema político que tem como precedentes, segundo seus criadores, três momentos históricos: a independência, a reforma e a revolução.

A essência da quarta transformação, de acordo com seus defensores, é geralmente definida pela mudança de regime político.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), faz sinal de positivo na eleições gerais de 2018
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), faz sinal de positivo na eleições gerais de 2018 - Ronaldo Schemidt - 1º.jul.2018/AFP

Por um lado, ela está associada à mudança na política econômica que põe fim ao paradigma neoliberal dos governos anteriores.

Um segundo elemento são as políticas sociais, buscando uma maior cobertura da população com menos recursos.

Um terceiro elemento é o fim da corrupção como um sistema entrincheirado na estrutura estatal e, finalmente, a austeridade republicana.

O 4T como argumento eleitoral é extremamente lucrativo. Apesar disso, parece que apenas seus gestores falam sobre isso.

As contínuas críticas ao desempenho do governo, a centralização e personalização da política, a inexperiência administrativa, as decisões deficientes em políticas públicas, a redução de orçamentos para instituições estatais e o ataque contínuo a organizações, mídia e jornalistas que se opõem ao 4T posicionam-se como armas empunhadas pela oposição contra uma força política legitimada pelas urnas.

O cansaço dos cidadãos de um sistema político desgastado que durante décadas não soube responder às suas exigências é hoje quem controla no Congresso a maioria suficiente para mudar a Constituição. Uma situação para a qual o sistema político não estava preparado devido à hegemonia anterior à transição democrática.

Para entender isso é necessário assinalar que a transição para a democracia e a alternância política no início deste século manifestaram a nova dinâmica do sistema político, com um governo sem maiorias legislativas, que promoveu a inevitável construção de acordos (formais e informais) entre as diferentes forças políticas do país.

Com isso como estrutura desse novo sistema político, os atores esqueceram um elemento central na democracia: a possível chegada de um novo partido hegemônico, fora das forças políticas tradicionais.

Após a transição, tanto os governos do Partido de Ação Nacional (PAN, 2000-2012) quanto o governo do retorno do Partido Revolucionário Institucional (PRI, 2012-2018) mostraram a visível incapacidade desses partidos de criar maiorias que lhes permitissem controlar tanto o Congresso quanto o Poder Executivo.

Com a chegada do Morena ao poder nas eleições de 2018, o sistema político e sua incipiente democracia perceberam que as maiorias poderiam ser alcançadas.

Independentemente dos efeitos do sistema eleitoral na formação do poder político no México, o Morena conseguiu controlar os dois ramos do governo legitimamente e sob padrões democráticos que haviam persistido desde 1994.

O exposto é reforçado pelo comando do estado de espírito da sociedade que, a pouco mais de um ano após o início da pandemia, mostra um amplo apoio à administração de AMLO.

A aprovação presidencial está acima de 60%, tornando-o um dos presidentes com maior aprovação na história democrática do país e comparativamente acima da média internacional.

Vale ressaltar a relevância desses níveis de aprovação no contexto da crise sanitária, na qual até o momento mais de dois milhões de pessoas foram oficialmente infectadas e foram registradas pouco mais de 220 mil mortes.

Quanto à percepção democrática, metade dos cidadãos estão satisfeitos. Porém cerca de 80% têm pouca ou nenhuma confiança nos partidos políticos.

No país, segundo os entrevistados, é mais frequente o exercício da liberdade de culto religioso (89%) do que a liberdade de expressão (66%), e seis em cada dez mexicanos acreditam que as leis são pouco ou nada respeitadas.

Com uma economia contraída devido à pandemia e às decisões do governo, os programas estratégicos do Poder Executivo estão avançando, assim como o programa de vacinação, que até agora atingiu pouco mais de 15 milhões de doses aplicadas.

As próximas eleições legislativas podem significar a continuidade do projeto que compõe a coalizão governante. Isso consolida as bases, de acordo com seus protagonistas, da quarta transformação.

A oposição resiste à ideia de um partido hegemônico semelhante ao PRI do século 20, enquanto o Morena tenta controlar não apenas o Executivo e Legislativo mas também se consolidar nas arenas subestaduais e municipais.

Isso não é pouco em um cenário de polarização e de incapacidade de encontrar pontos de acordo em relação ao futuro político do país.​

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