Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Leandro Narloch

Mugabe e seus colegas fizeram da África a Venezuela do século 20

Quando brasileiros escolarizados refletem sobre as causas da miséria da África subsaariana, costumam repetir em coro que "as potências europeias, ao criarem fronteiras artificiais que não respeitavam divisões tribais, criaram golpes e guerras civis no continente". Robert Mugabe, que renunciou nesta terça-feira (21) à Presidência do Zimbábue, mostra que esse lugar-comum do Enem não dá conta de toda a explicação.

Certamente o imperialismo europeu tem sua culpa. Mas o que esculhambou mesmo a África foram algumas ideias europeias –ideias erradas que inspiraram revolucionários e intelectuais.

Mugabe é um dos últimos exemplos do ativista africano intelectualizado e marxista, com frequência formado em ciências humanas em universidades europeias, que ao chegar ao poder deixou seu país ainda mais miserável que na época do domínio europeu.

Influenciados pelo leninismo, os ativistas africanos dos anos 1960 acreditavam que uma vanguarda de intelectuais redentores deveria guiar as massas rumo à revolução.

"Essa superioridade moral os colocou acima da prestação de contas com o povo", escreveu o cientista político etíope Messay Kebede. Foi assim que intelectuais se converteram tão facilmente em ditadores.

(Um retrato magnífico do clima intelectual daquela época está no romance "Uma Curva no Rio", de V.S. Naipaul, Nobel de Literatura de 2001.)

Hosni Mubarak - Egito (1981-2011)
Era vice do presidente Anwar Sadat, assassinado em 1981. Assumiu o poder e implementou uma ditadura militar marcada pela corrupção e pela repressão aos opositores. Foi forçado a renunciar em 2011, em meio aos protestos da Primavera Árabe que tomaram o Cairo

Idi Amin - Uganda (1971-1979)
Assumiu após um golpe militar e liderou a mais sangrenta ditadura do continente. Estima-se que os mortos por seu regime cheguem a 500 mil. Fugiu do país durante a guerra com a Tanzânia, buscou refúgio na Líbia e depois na Arábia Saudita, onde morreu em 2003

Hissène Habré - Chade (1982-1990)
Depôs o recém-eleito presidente Oueddei em 1982 e liderou um regime acusado de matar 40 mil opositores e torturar 200 mil pessoas em oito anos. Foi deposto pelo seu ex-comandante das Forças Armadas, Idriss Déby, que governa o Chade até hoje

Crédito: RIA Novosti
O ex-ditador da Guiné Equatorial, Francisco Macías Nguema

Francisco Macías Nguema - Guiné Equatorial (1968-1979)
Primeiro presidente do país, executou membros da própria família, ordenou a morte de vilarejos inteiros e proibiu que os cidadãos deixassem o país. Foi deposto pelo próprio sobrinho, Teodoro Obiang Nguema, que condenou o tio ao fuzilamento por genocídio

Crédito: Issouf Sanogo/AFP
O ex-ditador nigeriano Sani Abacha durante fórum econômico em Abuja

Sani Abacha - Nigéria (1993-1998)
Chegou ao poder depois que a eleição de 1993 foi anulada. Derrubou a inflação e aumentou as reservas do país, mas violou direitos humanos e aprisionou grande parte dos opositores. Morreu em 1998 no palácio presidencial em circunstâncias não esclarecidas

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