A manchete do "Estadão" deste domingo afirma que candidatos homens ficaram com 720 das mil melhores notas do Enem em 2016. A partir dessa constatação, a reportagem conclui que os homens têm desempenho melhor na prova —e repete uma ladainha politicamente correta sobre as causas dessa desigualdade.
Especialistas-ativistas ouvidos pelo jornal dizem que a origem do menor desempenho feminino "não deve ser buscada na biologia", mas em "fatores sociais e culturais", como a expectativa sobre as meninas, "os estereótipos da sociedade" e até mesmo os brinquedos que os pais dão a filhos e filhas.
Mas o texto simplesmente não prova que homens têm desempenho melhor no Enem. O Ministério da Educação não divulga a nota média das provas de acordo com o gênero dos mais de 6 milhões de candidatos.
Uma pista de que a média deve variar pouco entre meninos e meninas está no fato de as mulheres serem 57% dos candidatos do Enem —e também 57% dos universitários no Brasil, segundo o governo federal.
Além disso, a nota dos mil melhores diz pouco sobre o desempenho médio por gênero —pode ser, por exemplo, que os mil piores também sejam em maioria homens. É o que costuma ocorrer no PISA. Um relatório da OCDE de 2015 mostra que os meninos de dezenas de países são bem mais propensos a não atingir a nota mínima do exame. E isso acontece até em países dos mais machistas, como Emirados Árabes, Qatar, Peru ou Indonésia.
Há muitos dados divergentes sobre notas médias por gênero, por isso é perigoso falar em machismo e estereótipos como causas de um suposto desempenho menor das meninas. Muita gente acredita no contrário —a psicóloga Susan Pinker, por exemplo, dedicou todo o livro "O Paradoxo Sexual" para explicar por que as meninas costumam superar os meninos na escola, mas ficam para trás no trabalho.
A pressa do "Estadão" em afastar explicações baseadas na natureza lembra o que o psicólogo Jonathan Haidt diz num artigo do Heterodox Academy, um site formado por acadêmicos de esquerda e direita para estimular a diversidade ideológica nas universidades.
Haidt afirma que há hoje nas universidades (e na imprensa?) ideias sagradas que ninguém pode desafiar, sob o risco de ser condenado como um herege. Uma delas é a que "todas as diferenças entre grupos humanos são causadas por diferenças de tratamento a esses grupos, ou por retratos que a mídia faz sobre eles".
A natureza humana pode, sim, explicar por que os mil melhores do Enem são em maioria homens. E não há risco de cairmos no equívoco de que homens são naturalmente mais inteligentes que as mulheres.
Muitos estudos mostram que a inteligência e a capacidade de concentração dos homens variam mais que as das mulheres. Enquanto elas ficam no centro dos gráficos, os homens se espalham até os extremos: são mais estúpidos e mais inteligentes.
Não à toa, são a maior parte dos líderes, ganhadores do Nobel, inventores e bilionários, e também a maioria dos mendigos, presidiários e vítimas de acidente de trabalho. Como escreveu Camille Paglia, "não há um Mozart feminino porque não há um Jack, o Estripador feminino".
É provavelmente por causa dessa tendência natural, e não por causa de carrinhos ou bonecas que os filhos ganham de presente, que os homens são maioria entre as melhores e piores notas de exames nacionais e internacionais.
Estatísticas ajudam a enxergarmos a situação da educação no Brasil —mas confundem um bocado quando criadas apenas para justificar ideologias e reforçar nossos pontos de vista.
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