Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Coronavírus

Os desafios de Nova York além da pandemia

Retorno da cidade em 2020 vai refletir mudanças impostas pelo vírus

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A voz de Frank Sinatra cantando "New York, New York" pode ser ouvida de uma janela na rua em que estou hospedada, pontualmente às 19h, quando a cidade presta homenagem aos profissionais de saúde, aplaudindo e batendo panelas.

A metrópole da letra que diz “eu quero acordar numa cidade que não dorme”, pelo menos nesta vizinhança, está cochilando há quase três meses.

Quando o sol se põe, dá para notar, nas fachadas escuras dos edifícios, que esta área afluente de Manhattan foi esvaziada. Os moradores se refugiaram da pandemia em casas de campo e de praia.

Moradores deitam na grama do Domino Park, no Brooklyn (Nova York); círculos brancos foram riscados no chão para demarcar o espaço de distanciamento social
Moradores deitam na grama do Domino Park, no Brooklyn (Nova York); círculos brancos foram riscados no chão para demarcar o espaço de distanciamento social - Johannes Eisele - 17.mai.20/AFP

O verão começa em junho, mas o êxodo da cidade tradicionalmente começaria com o Memorial Day, o feriado que celebra os mortos em guerras, na segunda-feira (25).

Hoje, o dilema dos afortunados que partiram é como planejar o retorno e o que significa retomar a rotina na cidade mais populosa e mais densa do país, onde já morreram 20.376 pessoas, 22% do total de mortos nos EUA.

A quarentena de Nova York foi estendida até pelo menos 13 de junho. Novos casos de contaminação pela Covid-19 continuam a cair, e a cidade está testando uma média de 20 mil pessoas por dia.

Os exames dão uma medida do peso da desigualdade na pandemia. Enquanto 20% dos moradores de Manhattan apresentaram anticorpos para o novo coronavírus, no Bronx, onde vivem mais negros e hispânicos, 34% da população tem anticorpos.

A incerteza sobre o futuro próximo vai além da reabertura de escolas e universidades. Duas das maiores, Columbia e New York University, planejam reabrir no segundo semestre e, por enquanto, a prefeitura diz que o plano é reabrir todas as escolas públicas no começo do ano letivo em setembro.

Por ser tão densa, Nova York depende excepcionalmente do transporte de massa. Antes da pandemia, a ilha de Manhattan tinha 1,4 milhão de residentes, mas a população circulando nos dias úteis subia para 3,4 milhões. A tensão diária no sistema de metrô é evidente. Houve vários casos de excesso de força quando a polícia deteve passageiros por não usar máscaras.

A outra fonte de tensão é a greve do aluguel convocada desde 1º de maio. A adesão parece mais baixa do que esperavam, a julgar pelas 12 mil assinaturas recolhidas.

Nenhuma cidade tem a taxa de inquilinos de Nova York, onde eles são dois terços da população (5,4 milhões). O governo estendeu a suspensão de despejos até junho.

Ao contrário da recuperação pós-crash de 2008, o retorno de Nova York em 2020 vai refletir mudanças impostas pelo vírus.

A cidade do metro quadrado residencial e comercial mais caro do continente pode enfrentar mais do que uma fuga inicial de residentes inquilinos. O pequeno comércio ocupa dois terços dos imóveis comerciais aqui e não há pacote de ajuda federal que garanta a reabertura de todos os 26 mil restaurantes.

Empresas com escritórios em Manhattan vão emergir da pandemia avaliando melhor a experiência de manter funcionários trabalhando de casa. E os funcionários vão reconsiderar morar num caro e apertado quarto e sala, antes tolerável pelas horas passadas no trabalho, em bares e teatros cuja reabertura gradual continua imprevisível. O imposto predial representa metade da receita fiscal de Nova York.

Dan Doctoroff, o ex-vice-prefeito que ajudou a cidade a se reerguer do 11 de Setembro, tem alertado: Nova York vai voltar se líderes locais promoverem políticas que mantenham a confiança na sua densidade.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.