Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

'Westworld', no fim, deixa parábolas sobre realidade e necessidade de crer

Feito raro, o drama da HBO se tornou, em seu segundo ano, muito superior ao primeiro

Quando “Westworld” terminar neste domingo (24) e entregar ao espectador parte de suas respostas (algumas precisarão ser guardadas para haver uma nova temporada), terá chegado ao fim uma parábola sublime sobre nossa condição humana e nossa necessidade de acreditar, pertencer, lembrar e ser lembrado.

Feito raro, o drama da HBO sobre um parque povoado por androides fadados a entreter os instintos humanos se tornou, em seu segundo ano, muito superior ao primeiro.

As intersecções entre as linhas de narração agora estão mais bem amarradas, e os pontos no tempo começam a ficar distintos, fazendo a trama avançar sem a morosidade da primeira fase.

Há mais mundos em jogo —o Raj, na Índia Colonial, e o Shogun, no Japão dos samurais—, embora o enredo de ambos sirva apenas de apoio para a história nos cenários originais, o parque do Velho Oeste e as salas de controle da temível organização Delos, cujos propósitos sinistros começam a ficar nítidos.
Também muda um pouco o foco dos personagens, o que pode ser determinante para aclarar a história.

Se a primeira temporada explorou a contraposição criadores x criaturas, adotando o ponto de vista desses últimos para questionar o que nos torna humanos, esta segunda traz mais clareza ao adotar o ponto de vista dos criadores.

Dolores (Evan Rachel Wood) já não é mais a heroína impoluta, e sua missão se torna secundária. Maeve (Thandie Newton) se mostra falha. É o embate entre Ford (Anthony Hopkins), que mesmo morto continua a atormentar sua obra, e William (Ed Harris), que faz a série evoluir.

A interação entre os dois resgata o Mito da Caverna, de Platão (aquele em que os homens acorrentados numa gruta só veem sombras e ouvem ruídos externos, e creem ser essa a realidade). 

Não é possível saber quem diz a verdade, o que é real e o que é legítimo. São questões provocadoras em nossos tempos em que a verdade é coagida pela caixa de ressonância da ignorância e das redes sociais.

O arco de William parece agora completo, com a revelação de sua história pregressa e de sua vida fora dos parques de “Westworld”, exceto pela dúvida sobre sua humanidade —ela será respondida no episódio final? 

E se for, há, de fato, uma contraposição entre os dois? Houve isso entre Ford e seu antigo sócio, Albert (Wright, também)? 

Uma frase de Delos (Peter Mullan), o dono do parque, no quarto episódio promete: “Disseram que havia dois pais [do parque], mas quando mergulhamos no fundo dá para ver que sempre houve apenas o diabo e seu reflexo”.

A questão latente, niilista, é qual é o diabo e qual é o reflexo, um duplo que se repetirá com quase todo personagem.

Eis aí a genialidade do roteiro em sua metarreferência: sem essas respostas, somos jogados nós, espectadores, na condição dos personagens, sem sabermos se estamos a ver as sombras apenas.

O último episódio da segunda temporada de ‘Westworld’ vai ao ar às 22h deste domingo na HBO 

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