Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu Todas

Se o nosso planeta falasse

'Testemunhei a extinção da maioria das espécies que já viveram por aqui', ele diria

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Prezados seres humanos, quem fala é o planeta Terra. Minha intenção, com esta carta, não é culpá-los pela crise climática. Não me dirijo aos negacionistas, nem às lideranças dos países mais ricos e mais poluentes, e sim a todos os que estão refletindo sobre as responsabilidades individuais e coletivas para reverter essa crise.

Agradeço todas as mensagens bem-intencionadas de "Salvem o planeta!" propagadas por vocês.

Foram desenhos feitos por crianças, em minha homenagem, no Dia do Meio Ambiente, que me incentivaram a escrever esta carta. O fato de ter sido representada em um formato redondo, e não geoide, não foi o que me incomodou. Se não me estresso com marmanjos que ainda insistem que sou plana, que dirá com crianças da pré-escola que nunca assistiram a uma aula de geografia? O problema foi a escolha desses pequenos artistas por me desenharem com um rosto triste e lágrimas escorrendo dos meus olhos.

Não confundam minha sinceridade com ressentimento. É claro que sofro as consequências da exploração de recursos naturais, do capitalismo desenfreado, do agronegócio etc. E é claro que me compadeço do sofrimento dos refugiados climáticos que só tendem a aumentar nos próximos anos. Mas não, crianças, não estou triste.

Uma ilustração estilizada e expressiva mostra a Terra com um rosto triste, derramando uma lágrima, contra um fundo preto pontilhado com estrelas brilhantes, sugerindo preocupação ou tristeza sobre questões ambientais ou globais.
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 10 de junho de 2024 - Silvis/Folhapress

"A humanidade está acabando com o planeta." Parem de me fragilizar como se eu fosse uma donzela em perigo. Existo há 4,5 bilhões de anos e vou continuar existindo. Testemunhei a extinção da maioria das espécies que já viveram por aqui.

Sugiro um pequeno ajuste na abordagem de vocês, que me parece mais justo com ambas as partes. Algo como "a humanidade está acabando consigo mesma" —fiquem à vontade para elaborar da maneira que acharem mais impactante.

Quase invejo a fertilidade da imaginação humana por ter criado o cenário distópico em que uma nave com um punhado de bilionários deixa para trás um planeta destruído em busca de outro para colonizar e explorar. O bilionário de hoje é o "Tiranossauro rex" de anteontem. O destino de suas espécies é o mesmo.

A diferença é que os seres humanos têm a escolha de adiar a própria extinção, mas parecem não fazer a mínima questão de se salvarem. Não percam o pouco tempo que vos resta se preocupando comigo.

Até porque o fim da humanidade, para mim, não passará de um oportuno detox.

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