Mara Gama

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Programa inclusão de catadores para fim de lixão em Gana vence concurso do C40

Projeto de compostagem de São Paulo foi finalista do prêmio da Bloomberg Philanthropies

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A gestão de resíduos urbanos tem se mostrado cada vez mais central na discussão sobre mitigação da crise do clima. 

Se a maioria da população do mundo já vive em cidades, e essa massa só vai aumentar, está nas mãos das administrações municipais a chave para conter o aquecimento.

Em São Paulo, por exemplo, os aterros são responsáveis por 16% do inventário da emissão de gases do efeito estufa —e esse dado não leva em conta as emissões dos transportes de resíduos até esses locais, que entram na linha de transporte.  

Nesta quinta, 10, foram anunciados na Dinamarca os vencedores do concurso promovido pelas cidades do C40 e pela Bloomberg Philanthropies, em sua sexta edição.

O concurso mapeia os programas mais ambiciosos e impactantes para enfrentar a crise climática. São sete categorias em torno do tema O Futuro Que Queremos: Resiliência, Mobilidade Verde, Energia Renovável, Cidadãos Engajados, Ar Puro, Mudanças Transformadoras e Tecnologias Verdes.

Pátio de compostagem de restos de feira e podas de árvores aberto no dia 23 de novembro de 2018, na Mooca (Leste)
Pátio de compostagem de restos de feira e podas de árvores aberto no dia 23 de novembro de 2018, na Mooca (Leste) - Divulgação/Amlurb

O C40 é uma rede de 94 cidades do mundo todo engajadas em ações para o combate das mudanças climáticas e a construção de um futuro mais saudável e sustentável.

Representam mais de 700 milhões de cidadãos e um quarto da economia global. Os prefeitos das cidades C40 se comprometeram a cumprir as metas mais ambiciosas do Acordo de Paris no nível local e atuar no combate à poluição do ar.

O vencedor da categoria Cidadãos Engajados foi um programa de inclusão de catadores informais em Accra, Gana, no projeto para o fechamento de lixões.

Os trabalhadores locais coletavam mais de 300 toneladas de lixo diariamente, que eram descartadas em lixões ilegais com queima aberta, o que resultava em poluição do ar e das águas subterrâneas.

Em 2016, a cidade iniciou um programa para integrar os coletores informais no sistema oficial de gerenciamento de resíduos com o objetivo de aumentar a coleta, fechar os vazadouros e formalizar emprego. Como resultado, a coleta aumentou de 28% para 48% em dois anos.

A política de inclusão dos catadores na gestão profissional de resíduos venceu o concurso internacional é preconizada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) brasileira, o que indica que há respaldo internacional para essa linha de ação.

Entre os cinco indicados na mesma categoria ficou o projeto de compostagem urbana com restos de feiras livres e podas de árvores de São Paulo. Foi a única iniciativa brasileira da seleção.

Sim, se você acompanha a coluna, sabe que o tema compostagem é muito frequente por aqui. Não é apenas uma mania, embora seja também. É que quanto mais estudo o tema, mais me convenço que não há solução que não inclua a compostagem dos resíduos orgânicos e isso precisa ser capilar. Deve ser na casa, no condomínio, nos bairros.

O programa paulistano instalou cinco pátios para onde são levados os restos das feiras livres e misturados às podas de árvores de áreas públicas e jardins. É um casamento perfeito para a geração de composto em sistema de baixo custo que ainda permite a geração de composto, um sequestrador de carbono para o solo.

Antonio Storel, que foi o articulador da área de resíduos orgânicos na autoridade de limpeza pública de São Paulo quando o programa foi instaurado, em 2014, aponta três vantagens essenciais do sistema que foi finalista.

Em primeiro lugar, é um sistema que soluciona um grande problema com baixa tecnologia. Por que isso é bom? Porque baixa tecnologia, nessa área, quer dizer baixo custo, facilidade de replicação e de aplicação.

Em segundo lugar, faz uma revolução na logística, rompendo com a prática nefasta do chamado latifúndio do aterro, pois descentraliza das áreas de tratamento dos resíduos (são vários pátios, o que economiza viagens, cortando também aí as emissões).

Em terceiro lugar, porque os pátios têm são áreas em que deve haver abertura para visitação pública, o que proporciona transparência. A transparência tem pelo menos duas vantagens: a) obriga o gestor a manter a manutenção em dia; b) é ferramenta de educação ambiental para a população.

Manter pátios nas zonas urbanas combate a ideia do “not in my backyard” que ronda as áreas de tratamento de resíduos. Com sistemas de controle de odores e vetores, como é o caso do usado nos pátios, as pessoas aprendem que é possível cuidar do lixo nas proximidades de casa. 

A tecnologia usada para a compostagem nos pátios é uma adaptação do chamado método da UFSC para grande escala. Essa modificação foi feita já para o Pátio da Lapa, o primeiro a surgir, e vem sendo usada nos demais pátios que vieram depois. Hoje com o novo sistema de concessão de serviços de coleta, são seis empresas que cuidam da cidade.

O programa, que nasceu na gestão Haddad e foi praticamente congelado na gestão Doria, ganhou novo fôlego na gestão Bruno Covas. O prefeito anunciou que pretende chegar a 12 pátios até o final do mandato, ficando dois pátios para cada empresa administrar.

“É uma lição de casa do poder público. Tratar de forma sustentável os resíduos orgânicos. Isso abre caminho e cria parâmetros para pressionar os grandes geradores e educar os moradores das cidades”, diz Storel.

 

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