Marcelo Damato

Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Copa do Mundo 'sombria' começa domingo em pleno deserto

Controvérsias da escolha e da preparação vão acompanhar Mundial do Qatar ao menos até o pontapé inicial

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Faz pouco mais de quatro anos que acabou uma Copa que foi além da expectativa, com jogos muito disputados, o maior tempo de jogo com placar apertado em mata-matas da história dos Mundiais, o menor número de 0 a 0 em 60 anos e uma perspectiva de evolução no futebol.

Neste intervalo, não apenas o mundo mudou, abalado por uma pandemia, com impacto econômico na sequência e uma guerra na Europa, como a Copa está aportando num palco que parece sob medida para os tempos sombrios atuais —mesmo num país em que as nuvens são raras.

Para começar, poucas Copas foram disputadas em palcos com clima cívico tão distante do que se esperaria para uma festa. Apenas a Itália de Mussolini, em 1934, e a Argentina da ditadura militar, em 1978, possuíam regimes tão repressivos.

A escolha do Qatar foi a mais controversa de todas as Copas —a da Argentina aconteceu quando o país era uma democracia. A volúpia do futebol por mais dinheiro leva a Copa para países que não comungam com os ideais de liberdade e democracia do próprio esporte.

Placa vermelha com imagem da taça da Copa do Mundo em meio a paisagem desértica
Placa da Copa do Mundo em rodovia de Abu Samra, no Qatar - Odd Andersen/AFP

Esta também é a última Copa da era do ex-presidente da Fifa Joseph Blatter (1998-2015), aquele afastado há sete anos, depois que a polícia da Suíça, com o apoio do FBI, invadiu um congresso da entidade e fez várias prisões, entre elas a do ex-presidente da CBF José Maria Marin, que passaria mais de dois anos numa prisão nos EUA.

Curiosamente, a maior controvérsia sobre o Qatar não é o fato de ser um regime autocrático. O debate não se deu em tornou da liberdade, mas da ética, do clima e do futebol. Começou com fortes e persistentes suspeitas de corrupção dos delegados que escolheram a sede, em 2010.

A suspeita foi reforçada por dois fatos ligados ao esporte. O clima no Qatar impediu que a Copa ocorresse no meio do ano, por causa do calor. A mudança para esta época afetou o calendário do futebol no mundo todo. E também o Qatar é de longe o país com menos tradição no futebol entre todos que já foram sede. Até os EUA, em 1994, tinham mais história.

E, depois dessa questão, veio outra, sobre a segurança dos trabalhadores imigrantes nas obras da Copa. Um levantamento do jornal britânico The Guardian apontou 6.500 mortes, usando como fonte os governos dos países que mais enviaram trabalhadores, como Índia, Nepal, Paquistão e Quênia.

O governo do Qatar, com o endosso da Fifa, admite apenas três mortes, embora os relatos detalhados de fatalidades cheguem às dezenas, só na mídia ocidental, as últimas ainda no mês passado. Em comparação, a Copa do Brasil registrou nove mortes, e a da África do Sul, duas.

As mortes mancharam a imagem do Mundial e, por isso, variados artistas e autoridades se recusaram a participar do evento. Não há nenhum jogador que tenha se recusado a participar, ao menos publicamente.

Esta também é a última Copa com 32 seleções —curiosamente, esse modelo foi inaugurado na estreia de Blatter no centro da tribuna de honra. A próxima, obra do presidente Gianni Infantino, terá três países-sede, 48 seleções, 80 jogos e previsão de US$ 14 bilhões (R$ 77 bilhões, pelo câmbio atual) em receitas.

Mas essa é outra história. Domingo, a Copa começa e alguns bilhões de pares de olhos vão preferir esquecer de tudo isso e focar apenas o que se passa dentro de campo. A ver se conseguirão.

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