Marcelo Coelho

Mestre em sociologia pela USP, é autor dos romances “Jantando com Melvin” e “Noturno”.

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O impeachment de Bolsonaro tem de ser o quanto antes

Violência e estupidez da horda amarela são mais sinais de desespero do que de força

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Fico atônito com a cegueira, a loucura e a burrice dos bolsonaristas. Quando a gente acha que “não falta mais nada” —negação do coronavírus, defecção de Janaina, saída de Mandetta, demissão de Moro—, a horda amarela se junta e radicaliza ainda mais.

Ilustração de uma caixa com diversos objetos dentro, como arma de fogo, mamadeira, porta-retrato com foto de Olavo de Carvalho, bandeira dos Estados Unidos e faixa presidencial brasileira
André Stefanini/Folhapress

As pesquisas de opinião ainda mostram resistências ao impeachment. O Congresso faz corpo mole. O presidente do STF toma cuidado.

Como exercício mental, vale entretanto a pergunta. Você ainda imagina Bolsonaro na presidência em dezembro deste ano? Daqui a quatro meses?

Acho difícil. Esses atos de domingo parecem sinal mais de desespero do que de força.

Antes, os que se vestiam de amarelo e faziam vigília em volta do pato da Fiesp eram só a ponta de um iceberg. Mas o iceberg derrete: ficou só a ponta, à deriva.

Com milhões de pessoas respeitando a quarentena, 2.000 patetas parecem mais fortes do que são.

Não estou sonhando muito ao dizer que, quando o coronavírus der uma folga, grandes manifestações contra Bolsonaro forçosamente irão se organizar.

O que mantém no poder esse canalha?

Paulo Guedes hoje é pouca coisa; qualquer projeto de novos cortes de gastos e de reforma neoliberal deixou de ter pertinência imediata. O retrato dele para a história será o do gnomo de máscara e sem sapatos, em autoisolamento imaginário, em meio à parede tétrica dos zumbis do ministério.

As Forças Armadas são, lamentavelmente, a incógnita destes dias. Nunca esperei que, mais de 30 anos depois do fim da ditadura, o país tivesse novamente de especular sobre “o que o Exército vai fazer”.

Talvez os próprios militares se sintam pouco dispostos a responder a essa pergunta. Uma tutela passiva, ainda vai; tudo, exceto mais confusão.

A aposta de Bolsonaro sem dúvida leva isso em conta: um modelo de fechamento gradual, no estilo Chávez, seria imposto sobre o país, enquanto nem civis nem militares entrariam em acordo sobre qual o momento de dar o basta.

Por isso mesmo acho que a bandeira do impeachment se torna urgente. Quanto mais se espera mais força nas pesquisas, ou uma loucura realmente atômica de Bolsonaro, mais ele avança.

Mexe na PF, mexerá no Supremo, mexerá nos comandos militares. Irá adiante em qualquer oportunidade.

Pode inventar uma crise internacional com a Venezuela; vai que espalha (como Trump) uma teoria conspiratória sobre a China, ou forja com seus milicianos uma emergência no Rio de Janeiro, São Paulo ou Fortaleza. Aí pode ser tarde demais para a oposição.

O risco existe, como em qualquer caso de demência. Por sorte, há menos obstáculos para um caminho oposto.

A máquina de vazamentos da PF e do Judiciário, com Sergio Moro à frente, já deu cabo de personagens mais espertos que Bolsonaro e seus filhos. Por sua vez, o STF não engole ofensas e ameaças.

O crescimento da Covid-19 tende a enfraquecer ainda mais o bolsonarismo. E, nessa turma, alguns podem pegar a doença também.

A questão, nos bastidores, deve ser a de como gerir o processo do impeachment. Como regular os acertos entre Mourão e o Congresso? Como evitar uma ressurreição de Lula e da esquerda em geral? E como segurar o estrago da crise econômica?

As hesitações são visíveis. Mas a realidade já impôs o impeachment como saída.

Claro, pode prevalecer a hipótese (improvável, a meu ver) de Bolsonaro sair ganhando numa votação.

Mas, se não se fizer nada, ele sai ganhando também. O ímpeto oposicionista se perde, loucuras cada vez maiores serão toleradas, e um dia acordaremos sem democracia.

Ah, mas as pesquisas de opinião...

Admito que estão se movendo devagar demais. Mas estão se movendo.

Políticos, intelectuais e lideranças da sociedade civil nunca se limitaram a apenas seguir o que dizem as pesquisas de opinião. Influenciam-nas também.

Esse confinamento é engraçado. Faz a gente perceber o tempo de forma diferente. As coisas de dois meses atrás parecem ter acontecido há mais de um ano.

A rotina de arrumar a casa, ir para o computador, fazer uma refeição, voltar para o computador, dá impressão de que nada acontece. A própria estatística das mortes e contaminações se torna um fenômeno normal.

Enquanto isso, um verdadeiro anormal, e seu punhado de psicóticos, toma conta do país. O impeachment não é traumático.

Traumático é um presidente fazendo vista grossa a jornalistas sendo espancados pela turba.

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