Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Em busca de um Nobel para chamar de nosso

Mesmo sem ganhar, Raoni e os 225 povos reconhecidos pela Funai são símbolos de que os índios e o Brasil moderno podem compartilhar uma natureza ímpar

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Não foi ainda desta vez que faturamos um Prêmio Nobel, com Raoni, o guerreiro da paz. Ele bem que merecia, pelas seis décadas de luta pelas terras e pela sobrevivência dos irmãos caiapós, de quebra ajudando a preservar matas do Brasil Central e, assim, contribuindo para mitigar a crise do clima.

Raoni é um patrimônio nacional, ele e os 225 povos reconhecidos pela Funai. Um símbolo de que os índios que sobreviveram e o Brasil moderno podem compartilhar o espaço onde viceja uma natureza ímpar —desde que estejam dispostos a negociar, na tradição de Cândido Rondon.

O líder indígena brasileiro Raoni Metuktire - Jeff Pachoud - 28.mai.2019/AFP

Amazônia, caatinga, campanha, cerrado, litoral, mata atlântica e Pantanal são, igualmente, patrimônios de que poucas nações podem dispor. Não para devastar e poluir, mas para usufruir com inteligência, respeito e precaução.

Nos últimos meses, desde a campanha eleitoral, tudo isso —índios, biomas, clima, ciência— se tornou alvo de um assalto coordenado. A pretexto de defender recursos naturais cobiçados por estrangeiros, palavras e ações emanadas do Planalto deram a senha para sua destruição.

Na segunda-feira (7), a irmã gêmea desta coluna publicada quinzenalmente no site da Folha abordou, com ares de provocação, a falta de um Nobel brasileiro.

O ponto principal era que, anterior à inveja nobeliana, nosso problema estava na valorização errática do conhecimento e da pesquisa. Um pouco como a preservação ambiental: todos a favor, mas da boca para fora.

Alguns leitores, entretanto, apontaram a omissão da Medalha Fields —o “Nobel da Matemática"— obtido em 2014 por Artur Avila, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro. Ou seja, já teríamos um Nobel para chamar de nosso, e o colunista, cometido uma injustiça.

Longe de mim desmerecer Avila e sua incrível conquista. Fica aqui o registro, à guisa de mea-culpa, e o pedido de vênia por não mencionar um Nobel que não é de verdade um Nobel (já citado aqui três anos atrás).

Outros leitores, igualmente atentos, detectaram imprecisões no texto a respeito do único galardeado oficialmente brasileiro, segundo a Fundação Nobel, Peter Medawar (Medicina ou Fisiologia, 1960). Agradeço a Ildeu de Castro Moreira, físico e historiador da ciência, pelo puxão amigo de orelhas.

Medawar, nascido em Petrópolis, deixou o Brasil entre o final da Primeira Guerra, quando tinha cerca de 3 anos, e os 7 anos de idade. Ele chegou a ser registrado num cartório da cidade serrana fluminense, embora não costumasse se apresentar como um nacional, só como britânico (a mãe era inglesa), e tenha enfrentado problemas com a nacionalidade brasileira por não prestar o serviço militar.

Cássio Leite Vieira, outro amigo dedicado à história da ciência, além de jornalista, cobrou justiça para Luis Federico Leloir. Seria mais uma omissão da coluna, neste caso quando abordou o fato constrangedor de que a Argentina conta com quatro prêmios Nobel. Em realidade, seriam cinco.

Leloir (Química, 1970) nasceu em Paris, filho de um casal argentino. Pelo critério da Fundação Nobel, aparece na lista como francês. Mas ele se mudou com dois anos para a Argentina e fez toda carreira lá. “Ele é bem mais argentino que o [Cesar] Milstein [Medicina, 1984]”, sentencia Vieira.

E Raoni é pelo menos tão brasileiro quanto qualquer Bolsonaro, com a vantagem de não trabalhar pela discórdia.

Erramos: o texto foi alterado

Uma versão anterior desta coluna dizia que o cientista Peter Medawar, nascido em Petrópolis, deixou o Brasil aos 6 ou 7 anos. A data de retorno ao Reino Unido na realidade é incerta, mas teria ocorrido entre o final da Primeira Guerra, quando Medawar tinha cerca de 3 anos, e os 7 anos de idade.

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