Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Quem quer ser um matemático milionário?

Quando eu era aluno de doutorado, circulava um rumor de que, no início da carreira, o famoso jogador norte-americano de basquete Magic Johnson teria recebido o seguinte conselho de um professor bem-intencionado: “Esqueça o esporte e aprenda matemática, você ganhará muito mais dinheiro!”

Nunca consegui confirmar esse rumor, mas é fato que Magic Johnson sempre foi um grande fã da matemática. Aposentado das quadras e empresário de sucesso, continua muito ativo em iniciativas que visam estimular o gosto da disciplina entre os mais jovens.

Por muito que me custe, tenho que admitir que matemáticos com muito dinheiro são raros, certamente mais difíceis de encontrar do que milionários que gostam de matemática e a apoiam – os quais, também são muito apreciados, evidentemente.

O matemático russo Grigori Perelman, de 40 anos, que se recusou a receber a Medalha Fields, o equivalente ao Prêmio Nobel para a área - Reuters

Entre estes últimos, destaca-se o empresário norte-americano London T. Clay (1926 – 2017) que, 20 anos atrás, criou o Instituto Clay de Matemática, organização privada sem fins lucrativos “dedicada a aumentar e disseminar o conhecimento matemático”. 

O Instituto Clay organiza conferências e escolas, dá prêmios científicos e concede bolsas de estudo muito disputadas, particularmente para jovens brilhantes de todo o mundo: o brasileiro Artur Avila, ganhador da medalha Fields em 2014, foi bolsista Clay no início de sua carreira.

Mas sua iniciativa mais mediática, lançada no ano 2000, são os prêmios milionários que o Instituto Clay oferece pela resolução de sete problemas famosos da matemática: é US$ 1 milhão para cada um desses sete “Problemas do Milênio”.

O problema mais antigo na lista é a Hipótese de Riemann. Trata-se de uma afirmação sobre os zeros de uma certa função, chamada função zeta, formulada em 1859 pelo alemão Bernhard Riemann (1826 – 1886) em seus estudos em teoria dos números.

Acreditando que essa afirmação seria verdadeira, Riemann foi em frente e usou-a para provar muitos outros resultados matemáticos, e o mesmo vêm fazendo muitos outros pesquisadores desde então. Isto quer dizer que a resolução deste problema acarretará a homologação definitiva de dúzias de fatos importantes, por exemplo, sobre números primos, que atualmente estão “provados” apenas condicionalmente.

A hipótese de Riemann é o único Problema do Milênio que já constava na famosa lista de 23 problemas elencados pelo alemão David Hilbert (1862–1943) no segundo Congresso Internacional de Matemáticos, em 1900.

O único Problema do Milênio já resolvido é a Conjectura de Poincaré, formulada pelo francês Henri Poincaré (1854 – 1912) e solucionada pelo russo Grigori Perelman (n. 1966). Sobre esse e os demais problemas na lista, falaremos na próxima semana.

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