Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Como foram as descobertas das línguas da antiguidade

Poucas informações disponíveis dificultam decodificação de escritas antigas

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Ao longo da história, grandes civilizações emergiram, brilharam e se extinguiram enfim, deixando legados culturais fascinantes. O legado escrito é especialmente importante, pelo detalhe que pode nos dar sobre as vidas desses povos, suas alegrias e frustrações. Mas o segredo de muitas dessas escritas foi esquecido com o passar dos séculos, tornando seus textos incompreensíveis.

Os códigos secretos alemães gerados na 2ª Guerra Mundial por máquinas como a Enigma foram feitos para serem difíceis de decifrar.

Mas os inimigos sabiam bastante sobre eles, como, por exemplo, que estavam escritos em alemão e que tratavam da guerra. Isso, a par de outras informações, como os manuais capturados em submarinos alemães, foi fundamental para “quebrar” esses códigos.

No caso de escritas antigas, cujas culturas e idiomas se perderam há muito, essas informações não existem.

O que significam os símbolos? São ideogramas, representando ideias e objetos, ou partículas fonéticas, como nossas letras e sílabas? Que sons têm? De que tratam os textos? Em que idioma estão?

Para agravar, normalmente dispomos de poucos textos. Isto também explica por que, ao contrário do que acontece na criptografia, o computador tem um papel menor na interpretação das escritas mortas, que permanece um domínio do intelecto humano.

Os etruscos, que precederam os romanos na península itálica, usavam o alfabeto grego, que conhecemos bem. Sabemos como “ler” as palavras que deixaram escritas. Mas não temos a menor ideia do que significam. E como praticamente tudo que temos em etrusco consiste de inscrições funerárias, é provável que nunca venhamos a saber.

O primeiro caso importante foi o da escrita hieroglífica do Egito antigo, decifrada a partir da descoberta da Pedra de Roseta, que contém textos idênticos em egípcio e em grego —este último bem conhecido.

‘Dicionários’ como esse são raros e não bastam: só houve progresso quando J.-F. Champollion supôs, em 1822, que a língua egípcia seria aparentada com o idioma copta, e usou seu conhecimento desse idioma para interpretar o texto inscrito na Pedra.

Pedra de Rosetta
Pedra de Rosetta - Hans Hillewaert/Wikimedia Commons

Seguiram-se as escritas cuneiformes do Oriente Médio.

Em 1835, H. Rawlinson encontrou inscrições com textos idênticos em três línguas: persa antigo, elamita e babilônio. Nenhuma delas era conhecida, mas em 1849 o persa já estava decifrado, pelos trabalhos de Rawlinson, E. Burnouf e C. Lassen. Rawlinson então usou essa “pedra de roseta” para decifrar o babilônio e o elamita.

A descoberta da chamada biblioteca de Assurbanipal, o arquivo real do império assírio, atraiu a atenção para a escrita acádia, precursora da babilônia.

A tarefa de decifrá-la foi concluída em 1857 quando Rawlinson, E. Hincks, J. Oppert e W. Talbot produziram traduções quase idênticas de documentos recentemente descobertos.

Dicionários acádio-sumério foram então usados para decifrar a escrita suméria, a mais antiga de toda a humanidade.

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