Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

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Descrição de chapéu Venezuela América Latina

Apesar da boa diplomacia, Brasil é frouxo com Maduro

Governo precisa sair do muro e se manifestar sobre as evidências de que as atas em posse da oposição são consistentes

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Atrapalhada por ruídos causados pela vergonhosa nota do PT e pelas declarações estapafúrdias de Lula sobre a normalidade do que se passou na eleição venezuelana, a estratégia inicial do Itamaraty mostrou-se adequada como reação às suspeitas que pesaram e pesam contra a vitória cantada e assumida por Maduro.

O pedido de mais transparência, com a divulgação das atas eleitorais que poderiam comprovar a veracidade do resultado, foi cauteloso mas sugestivo na desconfiança. A diplomacia brasileira manteve seu conhecido padrão de intermediação e diálogo. Deu um passo a mais ao se reunir aos governos do México e da Colômbia para formar um grupo que tem atuado ativamente nos bastidores com vistas a um desenlace satisfatório para a crise.

O tempo, porém, pode criar muitos embaraços. As atas, ao que tudo indica, não serão apresentadas. Caso entregues, serão falseadas e facilmente denunciáveis. Aquelas que a oposição divulgou e alega serem verdadeiras parecem de fato ser.

O respeitado Carter Center declarou à Folha que as atas a que teve acesso são consistentes e afirma que Edmundo González venceu o pleito. Os documentos já foram, aliás, colocados à disposição do governo brasileiro, que parece não querer vê-los.

O ditador Nicolás Maduro com apoiadores em Caracas
O ditador Nicolás Maduro com apoiadores em Caracas - Marcelo Garcia/Divulgação Palácio de Miraflores via AFP

O problema é que a verdade das urnas não será suficiente para alterar uma situação na qual Maduro controla instituições e encontra apoio no Exército para prosseguir com sua ditadura. Será um grande feito se Brasil, México e Colômbia conseguirem uma transição democrática. Nada indica, contudo, que isso possa ocorrer. Quais serão os próximos passos?

Dos EUA esperam-se sanções, com apoio de aliados ricos e remediados. A Venezuela, se isso é possível, verá agravar-se sua situação de pária no mundo ocidental. Como disse Celso Amorim, aumentará o cansaço. Maduro não se preocupa tanto com isso. Tem apoio de China e Rússia e poderá sobreviver, se não for atingido por um golpe ou levante popular.

Ao Brasil, de modo mais ou menos leniente, interessará manter relações comerciais com a Venezuela. Posições mais veementes não terão lugar, ainda que em nome da democracia e dos direitos humanos. Nem o Itamaraty, muito menos o PT e o governo aceitariam condenações enfáticas.

O fato é que Lula sempre foi frouxo com a ditadura de Maduro. Isso não se deve apenas à necessidade de manter relações com o vizinho. Trata-se de uma empatia ideológica envelhecida e atrasada. Era de se esperar que ao menos uma palavra de apreensão ou crítica já tivesse sido pronunciada. Com as evidências sobre as atas o Brasil permanecerá calado? Aguardará até quando?

É verdade que a defesa da democracia não serve como principal critério para decisões mais drásticas de política externa. Este foi, aliás, um erro que o presidente dos EUA, Joe Biden, cometeu em seu mandato. Alardeou uma atuação internacional baseada em defesa da democracia e direitos humanos e acabou caindo em sua própria armadilha. Bastariam as relações com a China ou a visita à Arábia Saudita para jogar por água abaixo essa premissa.

Política externa deve levar em conta sobretudo as vantagens comerciais ou eventualmente geopolíticas que os demais países oferecem. Se são ou não democracias, não é o que mais importa. Isso não isenta, contudo, o governo brasileiro de sair do muro e assumir uma posição mais crítica sobre o que está em curso.

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