Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

O STF sem Bolsonaro

Quem perde e quem ganha com a alteração regimental da corte?

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A dinâmica institucional futura no país dependerá do que vai acontecer com o recente protagonismo hiperbólico do STF. A decisão do ministro Gilmar Mendes autorizando gasto para o Bolsa Família fora do teto constitucional introduziu novo padrão de intervenção da corte na área fiscal, jogando por terra boas práticas em torno de regras fiscais e "hard-budget constraints".

Foi uma liminar, mas seus efeitos sobre o jogo político são claros. Há muitas decisões similares fora da seara fiscal protagonizadas pelo ministro Alexandre de Moraes. Na mesma semana, o STF anunciou mudanças substantivas no seu regimento interno, às vésperas da investidura do novo presidente.

O contexto é marcado por intensa e inédita politização da corte, o que afetou sua reputação; sua rejeição na opinião pública é inédita: 78% dos entrevistados dizem que confiam pouco ou que não confiam no STF.

A alteração regimental mira o ativismo processual individual de juízes. As regras formais e informais vigentes têm dado guarida ao ativismo individual disruptivo. Com a alteração, os pedidos de vista deverão ser devolvidos em até 90 dias, sob pena de o julgamento continuar, e o plenário ou as turmas deverão avaliar medidas cautelares monocráticas —interrupção de alguma política governamental, prisão, afastamentos do cargo, etc.— se elas envolvem questões de preservação de direitos.

O então presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro do STF Luiz Fux durante cerimônia em alusão ao Dia do Exército - Gabriela Biló - 19.abr.22/Folhapress


Os poderes delegados em 1988 ao STF foram vastos: "Poucos textos constitucionais terão confiado tanto no Poder Judiciário e nele, de modo singular, no STF", afirmou com razão Sepúlveda Pertence, ex-presidente da corte e então procurador-geral da República, quando da promulgação da Carta.

Tais poderes expandiram-se ainda mais, sob FHC, com apoio do Poder Executivo, o que culminou com a nova prerrogativa da corte "modular" decisões (lei 6.898/99). O Legislativo também expandiu paulatinamente seus poderes, limitando a emissão pelo presidente de MPs e tornando as emendas individuais e de bancada impositivas.

Com Bolsonaro, o STF deparou-se com um trilema existencial: apoiar a Lava Jato, conter o presidente ou ambas as alternativas. O STF escolheu a segunda, rompendo a aliança STF-Executivo, compondo estrategicamente com o Legislativo.

Como se comportará o STF sem Bolsonaro? O assunto terá uma análise específica. A alteração regimental é consequência da era Bolsonaro. Ela reduzirá a incerteza das decisões individuais e reafirma o poder da maioria na corte. Sua reputação sairá fortalecida. Quem perde com elas? Todos os ministros perdem o poder unilateral de veto, mas as perdas irão se concentrar nos ministros minoritários associados à oposição ao novo governo.

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