Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares
Descrição de chapéu Eleições 2018

Sem ar

As ameaças e provocações são diárias, mas prevalece a normalidade

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O momento é de impasse: nem golpe, nem impeachment. A intenção de Bolsonaro é —e sempre foi— destruir a democracia representativa. Mas até agora avançou bem pouco nesse delírio. Vem sendo contido pelo Congresso, que, sob o comando do deputado Rodrigo Maia, engavetou suas propostas mais reacionárias. Também a Suprema Corte o tem impedido de tratorar a lei, além de mantê-lo sob investigação.

Os governadores, de seu lado, tomaram a si a tarefa de proteger do coronavírus a população que a ignorância e a incompetência do presidente deixaram ao deus-dará. Por último, a imprensa continua sendo fonte confiável de informação sobre os desatinos do populismo aboletado no Executivo. As ameaças e provocações são diárias, mas prevalece a normalidade, mesmo que Bolsonaro demonstre que não tem capacidade, muito menos credenciais morais, para governar.

Hoje como hoje, seu mandato tem dois arrimos. O primeiro é o apoio estável de um contingente estimado entre 27% e 33% dos brasileiros. Baseado em levantamento do Instituto Idea Bigdata, o jornalista José Roberto de Toledo, do podcast Foro de Teresina, calcula que aquele grupo é formado, em proporções assemelhadas, por extremistas ressentidos e subletrados para os quais o “mito” é o máximo; por reacionários com uma agenda religiosa-moral a gosto da ministra Damares; por ultraliberais que seguem a cartilha econômica de Paulo Guedes; e, finalmente, por uma pequena parcela dos beneficiados pelo auxílio emergencial de R$ 600.

Contar com um número suficiente de votos para impedir o êxito de um processo de impeachment também garante no cargo o chefe deste desgoverno. Seu patrimônio não vem tanto do aluguel dos deputados do centrão. Estes, como se sabe, são aliados volúveis. O que o segura na primeira cadeira é o ocupante da segunda, Hamilton Mourão.

Nos dois casos em que presidentes foram impedidos, os vices —Itamar Franco (de Collor) e Michel Temer (de Dilma) — não só mal se alinhavam aos respectivos titulares como ainda eram políticos com respeitável milhagem no Congresso. Ao votar pela deposição do caçador de marajás ou da criatura de Lula, cada parlamentar sabia o que esperar de quem ocuparia a vaga aberta —e podia assim calcular custos e benefícios da troca.

Não é assim com o general da reserva que herdará a faixa presidencial caso o mandato de Bolsonaro seja interrompido. Ambos comungam da mesma aversão pelo Legislativo e pelas demais instituições da democracia representativa —com as quais o vice tem pouca ou nenhuma familiaridade.

Sem saída à vista, estamos todos sem ar.

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