Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares
Descrição de chapéu Eleições 2018

O fracasso dos populistas

Estratégia política de alto risco, populismo só tem êxito em circunstâncias específicas

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Políticos populistas ameaçam a democracia. Difundem a descrença nas instituições representativas, combatem o pluralismo, estimulam a polarização e montam poderosas máquinas de desinformação. No governo, tratam de submeter o Legislativo e, especialmente, o Judiciário à vontade do Executivo, sob seu controle, e buscam amordaçar a mídia, as organizações autônomas da sociedade e as oposições organizadas. O modo como agem é esmiuçado por Steve Levitsky e Daniel Ziblatt no best-seller "Como as democracias morrem", de 2018.

Sem capacetes, o presidente Jair Bolsonaro e o então candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas participam de motociata em São Paulo - Eduardo Knapp - 1.out.22/Folhapress

Felizmente, governantes populistas não costumam ser bem-sucedidos ao buscar a destruição do sistema representativo. Essa é a tese do professor Kurt Weyland, da Universidade do Texas-Austin, no artigo "How populism dies" (Como o populismo morre: as fraquezas da liderança personalista plebiscitária"), publicado neste ano nos Estados Unidos.

Segundo ele, a eleição de um líder populista pode ser perturbadora, mas não condena o regime democrático à extinção. Ao contrário, a democracia com frequência sobrevive a quem se dispôs a
destrui-la.

Para fundamentar sua tese, Weyland examinou as 38 experiências de governos com aquele tipo de liderança, ocorridas na Europa e na América Latina, desde 1985. Constatou que são muitos os casos em que aqueles governos entram em colapso rapidamente. Caem e são substituídos segundo a rotina, nos sistemas parlamentaristas, ou são derrubados por golpes parlamentares, impeachment, ou renúncia forçada. Quando chegam ao final do mandato, dificilmente se reelegem.

A recente derrota de Bolsonaro nas urnas, assim como a de Trump, em 2020, são dois exemplos que parecem confirmar os achados de Weyland. Ele argumenta que o populismo é uma estratégia política de alto risco, que só tem êxito em circunstâncias bem específicas. Líderes personalistas que se dispõem a enveredar por esse rumo têm de enfrentar as elites estabelecidas e os outros Poderes de Estado, os quais, com maior ou menor vigor, freiam sua ambição. Com frequência, sofrem pressão também de governos estrangeiros e de organizações internacionais. Sua capacidade de mobilizar seguidores dificilmente compensa a força das oposições que seu estilo político desperta.

Em suma, a boa notícia é que os populistas autoritários antes fracassam do que triunfam, e a democracia resiste mais frequentemente do que sucumbe a suas investidas. Ainda assim, o fato de que forças de pendor autoritário ganhem importância crescente nas nações democráticas é inquietante, pois no mínimo tornam as disputas eleitorais mais radicalizadas e o convívio político mais áspero.

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