Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Festa, amigos, sexo e ressaca moral

Tudo o que consegui de diferente nessa quarentena foi a façanha de tomar um pileque numa festa de aniversário, online

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Quase me senti de volta à normalidade. Não a que o presidente tanto quer, mas a versão de mim mesma antes desse modelo “pandemia 2020”.

Acordei nesta segunda (25) com uma baita ressaca física, que logo mais se somaria à moral, porém com o coração quentinho e com uma leve lembrança de que a noite foi divertida, depois de participar de um aniversário surpresa, com direito a docinhos, bolo e muitas declarações de amor, beijos e abraços.

Calma, leitor, não sou a doida da blogueira que fura quarentena e manda um foda-se para a vida. Foi tudo online, graças a essa maravilha da tecnologia chamada Zoom, que disseram ser uma invenção chinesa para descobrir tudo sobre nós, mas como não há nada que eu já não diga publicamente, e esta coluna é prova disso, eu nem ligo, e agradeço que graças ao Zoom ainda não fiquei louca.

Uma amiga muito organizada comprou minibolos, mandou entregar na casa de outras 14 e no horário marcado surpreendemos a aniversariante, cada qual com sua tacinha. Uma por uma, como no Arquivo Confidencial, do Faustão, nos lembramos de algum momento vivido juntas.

Brinde aqui, brinde acolá. Quando chegou a minha vez, o álcool já falava mais alto e eu chorei no meio do meu discurso, que trouxe do nosso passado viagens à Bahia, meia-maratonas, festas intermináveis, dores de corno e o começo dessa amizade que nos tornou inseparáveis muito antes da realidade impor a distância física.

Era para ser só um bolinho e um parabéns, mas como representante PhD dos “inimigos do fim”, engatei mais três vídeo-chamadas, antes de descontar toda a abstinência que sinto do mundo lá fora e a energia etílica acumulada no meu marido, que estava compenetrado matando pessoas no computador.

Quando o vi ali sentado, com o cabelo de quem não vê uma tesoura há quase três meses, pensei na sorte que era amar aquela pessoa com quem eu dividia o confinamento. E eu me senti mais apaixonada e fizemos sexo como se não fossemos casados há oito anos e como se não estivéssemos confinados há quase três meses.

Acordei com a promessa de que nunca mais bebo. Meu antigo normal. Mais vida pré-pandemia impossível. O plano para esse período era acordar cedo, meditar, malhar, tomar mais água, fazer crochê e ler um livro a cada três dias.

Tudo o que consegui de diferente nessa quarentena foi a façanha de tomar um pileque numa festa de aniversário, online. Como será a vida pós-pandemia? Não faço a menor ideia. No momento, seguimos acumulando derrotas. E sem sair de casa.

Quando a dor de cabeça começou a melhorar, lembrei do Twitter. Socorro. Quebrei a regra sagrada “se beber, não tuíte”. Agarrei o celular com desespero, enquanto as lembranças foram vencendo a amnésia alcoólica.

Muito animada e calibrada, baixou em mim um “weintraub”, que me inspirou a tuitar algo me achando muito esperta, mas em que troco as vogais e cometo um assassinato da língua portuguesa.

Fui salva por uma alma generosa que, por inbox, me avisou. Olhei as notificações para checar se não havia deixado rastros e percebi aliviada que não tinha sido cancelada, mais uma vez.

Já no banho, finalmente vejo a ressaca e a vergonha irem embora pelo ralo do chuveiro. Meu marido abre a porta do banheiro e dispara: “festinha, hoje?”

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