O que vivemos em 31 de março de 1964 foi golpe, e depois daquilo uma ditadura. O absurdo de que episódios como esses estejam em discussão e a ameaça de uma nova ruptura constitucional, no começo da terceira década do século 21, refletem o pesadelo em que vivemos nos anos Bolsonaro.
Desde que assumiu, o protótipo de tirano ameaça as instituições, que respondem com cartas de repúdio e telefonemas amistosos. O golpista fala em estado de sítio, chovem manifestações do Congresso e da sociedade. O presidente do STF, Luiz Fux, liga para Bolsonaro e se tranquiliza porque ele nega ações autoritárias. O que as instituições estão esperando para reagir de fato? Talvez um golpe.
É inacreditável que um regime que matou, torturou, censurou e que, além de tudo isso, transformou o país num antro de desigualdade, de burocracia e de corrupção, possa ser celebrado com aval da Justiça, que acolheu um pedido da Advocacia Geral da União (AGU).
Como podem dizer que as instituições estão funcionando se a AGU cospe em cima da Constituição? Se o Congresso deixa que Bolsonaro estique a corda todos os dias a ponto de que temas como ditadura, AI-5, estado de sítio, estado de defesa voltem a fazer parte do nosso cotidiano e das notícias nos jornais? Por que os veículos de comunicação ainda não encamparam uma campanha de #ForaBolsonaro quando serão os primeiros atropelados no caso de um golpe?
Como acreditar que nossa democracia é sólida se parlamentares celebram torturadores sem que sofram qualquer revés, se a memória de torturados e mortos pelo regime é espinafrada livremente por cidadãos? Como não temer por um retrocesso quando neste 31 de março recorremos às palavras de Ulysses Guimarães para traduzir o horror que temos àquele passado? “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.”
Bolsonaro só não deu um golpe ainda porque não encontrou apoio necessário para tanto. Enquanto ele estiver no poder, o sentimento será de que a espada de Dâmocles paira sobre a democracia, que pode partir ao meio a qualquer momento.
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