Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge
Descrição de chapéu machismo

A geração que não aceita o carimbo de velha

Entendemos todas que ser mais nova não é melhor do que a delícia de ser o que é

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Eu e muitas outras mulheres de 50 anos somos a primeira geração que não aceita o carimbo de velha, imposto a nós desde sempre. Temos de sobra exemplos individuais que desafiaram o destino que nos era reservado. Eram chamadas mulheres à frente do seu tempo, transgressoras, como se reivindicar mais vida social, profissional, sexual, fosse uma grande ousadia. Era. Obrigada a elas que mostraram a muitas de nós que a exceção poderia ser a regra.

Somos a primeira geração de 50 anos que ao ver os anos passar, a idade duplicar, mantivemos, não apenas a saúde mental, a disposição física, a atividade intelectual, mas nossa identidade. Não mudamos as dinâmicas de nossas vidas, demos outros significados aos términos de ciclo, mas principalmente aos recomeços, além, claro, do tesão sexual e pela vida. Abraçamos os avanços da medicina, as conquistas do feminismo e nos apoderamos de nós mesmas.

Sombra de uma mulher olhando para o sol
Gulcin Guler por Pixabay

Somos a geração que recusa o tapinha nas costas de dever cumprido. Já fizemos muito, talvez mais do que gostaríamos, mas temos mais a realizar. A diferença é que agora fazemos o que queremos, não mais o que esperam de nós, inclusive porque não nos importamos com expectativas e com julgamentos.

Somos a primeira geração que está vivendo o começo da plenitude da beleza da mulher madura. Com o poder de decidir se queremos mais ou menos rugas, cabelos brancos, flacidez. Com as ferramentas para cuidar do nosso corpo como temos cuidado da nossa cabeça, que está longe de ter alcançado o estado da velhice, da forma pejorativa como ela é tratada. Estamos lúcidas, ativas e prontas para viver fisicamente e psicologicamente velhas e novas experiências.

Somos a geração que questiona o significado da palavra "velho", que não aceita mais ser relacionado a qualquer coisa sem valor e descartável. Temos histórias, experiências, festejamos o caminho que percorremos e não lamentamos que o tempo tenha passado. Ele, o tempo, se tornou um aliado, a testemunha do valor que conquistamos. Temos consciência disso.

Recusamos o selo de "vencido", assim como o processo de invisibilidade a que tentam nos submeter. Não vai rolar. Estamos aqui, vivas, cheias de vida, de planos, de projetos, de curiosidade, de vontade. Estamos na vida, nas escolas, no mercado de trabalho, na academia, na praia, nos bares e restaurantes, dentro de aviões, andando de bicicleta, fazendo ioga, correndo maratonas, namorando, criando filhos.

É um processo longo, às vezes doloroso, muitas vezes chato, de provar ao mundo que ainda nos vê como ultrapassadas, que não somos nós quem não acompanhou a evolução. Quem ainda não entendeu essas mudanças está brincando de roleta russa ao condenar sua própria existência à velhice, aquela que tanto desdenha enquanto se encaixa nesse modelo de juventude que idealiza. Acredite, você logo chega aqui.

Somos a primeira geração de 50 anos que enfrenta o tabu dos 50 anos. Não à toa, este movimento tem sido encabeçado por mulheres que jamais mentiram sua idade, jamais se esconderam de si mesmas ou de quem quer que seja, jamais evitaram o encontro com os anos. Um movimento que tirou do armário personalidades, atrizes, cantoras, que passaram as últimas décadas fugindo do assunto, sucumbindo à imposição da ditadura da beleza, ao julgamento. Entendemos todas que ser mais nova não é melhor do que a delícia de ser o que é.

Estamos livres, vamos juntas. Não podem mais fazer de conta que não nos veem.

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