Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

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Martin Wolf
Descrição de chapéu Financial Times Fórum Econômico Mundial

O que aprendi nos meus dias na montanha em Davos

Os negócios estão mais animados, mas restam muitos desafios a resolver

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Financial Times

Sempre se aprende alguma coisa com o Fórum Econômico Mundial. No mínimo, aprende-se o que as pessoas ricas e poderosas pensam que está acontecendo. Elas podem estar erradas; na verdade, com frequência estão. Como fomos lembrados recentemente, o mundo é cheio de surpresas. Mas aqui estão minhas reações.

Os empresários estão se sentindo mais animados. Sim, eles ainda sofrem os efeitos da Covid, a reabertura inflacionária pós-pandemia e o ataque da Rússia à Ucrânia. Eles ainda estão ameaçados pela hostilidade entre os Estados Unidos e a China. Mas as notícias têm sido mais positivas: a Ucrânia está se saindo melhor na luta pela sobrevivência; os lunáticos se saíram pior do que o esperado nas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos; os preços do gás caíram; a inflação nominal pode ter atingido o pico; as preocupações com a recessão diminuíram; e a China reabriu.

Com esse pano de fundo, vamos considerar alguns dos temas mais importantes, começando pelas perspectivas econômicas.

53ª edição do Fórum Econômico Mundial ocorreu entre 16 e 20 de janeiro - Fabrice Coffrini/AFP

O humor geral sobre a economia nos países de alta renda é de maior otimismo sobre o futuro próximo. No entanto, esses otimistas podem estar se apressando. O crescimento do PIB nominal dos EUA tem sido rápido demais para ser compatível com a inflação de 2%. Os salários nos Estados Unidos também cresceram perto de 5% no ano passado, enquanto o desemprego permanece baixo. Nada disso é consistente com atingir a meta de inflação de forma sustentada. Se levarmos o Fed a sério (eu levo), isso implica uma política monetária mais rígida e uma economia mais fraca do que muitos esperam. Alternativamente, o Fed pode desistir cedo demais e ser forçado a apertar novamente um ou dois anos depois. Quanto ao BCE, é uma boa aposta que ele tentará trazer a inflação de volta para 2% o mais rápido possível.

No entanto, o clima em muitos países em desenvolvimento é de ansiedade. O legado da Covid, altos preços de alimentos e energia, altas taxas de juros e um dólar forte colocaram muitos países de baixa e média renda em sérias dificuldades. As preocupações de alguns formuladores de políticas, especialmente os da África, eram palpáveis.

As histórias contadas pela China e a Índia, as gigantescas economias emergentes do mundo, eram bastante diferentes. Liu He, o vice-primeiro-ministro cessante, veio dizer aos participantes que a China não está apenas aberta de novo, interna e externamente, como também está abraçando seu setor privado. Um empresário ocidental que conheço bem, há muito tempo residente na China, confirmou a mudança. Uma explicação plausível é que Xi Jinping decidiu que o crescimento importa. Este ano será claramente forte. Se a nova abordagem será sustentada em longo prazo é incerto. Isso é inevitável quando o poder está tão concentrado. O desejo de controle rígido certamente retornará.

Os indianos foram a maior delegação em Davos. Sua comunidade empresarial está claramente se sentindo otimista com as perspectivas sobre o que talvez seja o país mais populoso do mundo hoje. De fato, a menos que as coisas deem errado (é sempre possível), esta deverá ser a grande economia de crescimento mais rápido do mundo nas próximas décadas. As oportunidades devem ser abundantes.

Outra grande história diz respeito à política comercial e industrial. A mal denominada Lei de Redução da Inflação dos EUA está hipnotizando as empresas europeias, muitas das quais consideram mudar suas operações para lá, em parte para explorar suas oportunidades, mas também para aproveitar os preços mais baixos da energia nos EUA. Este é o início de uma guerra de subsídios, na qual os EUA, com seu vasto orçamento federal, levam a melhor, embora Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, tenha proposto possíveis respostas. Tenho poucas dúvidas de que essas políticas serão um desperdício. Mas elas devem acelerar a adoção de novas tecnologias climáticas. O nacionalismo econômico pode ser agora a única maneira de fazer isso. Também está dividindo o Ocidente em um momento crucial.

Quase igualmente marcante foi o modo como Katherine Tai, representante comercial dos EUA, enquadrou a política comercial do país em termos de interesses e direitos dos trabalhadores. No entanto, o mais significativo não foi isso, mas sim a aparente ausência de uma visão de Washington sobre como o sistema de comércio global deve operar. A antiga potência hegemônica não apenas desenvolveu profundas suspeitas em relação à China, sendo esta a única política verdadeiramente bipartidária; ela abandonou o interesse pelo sistema.

Uma última área de foco foi a tecnologia. Temporariamente, temo (e permanentemente, espero) que a onda das criptomoedas tenha diminuído. Isso deixa o campo aberto para melhorias drásticas nos sistemas de pagamentos globais que as moedas digitais de bancos centrais poderiam oferecer. Em relação ao meio ambiente, o maior entusiasmo desta vez parecia estar na mudança para o hidrogênio. Esse realmente parece ser um elemento crucial numa economia ambientalmente mais sustentável.

A maior onda, no entanto, foi sobre a inteligência artificial. No momento, o ChatGPT roubou o show. A capacidade das pessoas envolvidas em IA de se sentirem declaradamente entusiásticas com suas criações é tão compreensível quanto assustadora. Quanto mais eu vejo as criações da indústria tecnológica, mais temo estar vendo o aprendiz de feiticeiro na vida real. A diferença é que ninguém tem a capacidade de desligar esse feitiço.

Por fim, muito presente durante toda a cúpula esteve o ataque à Ucrânia. Em um café da manhã, Boris Johnson renasceu, informando ao público que não havia chance de Vladimir Putin usar armas nucleares. Espero que ele esteja certo. Mas a questão levantada pela discussão era clara: a tentativa de Putin de recriar o império russo não pode continuar. Tornaria a Europa radical e permanentemente insegura. E encorajaria os neoimperialistas em todos os lugares. Deve ser derrotada.

Como um todo, as notícias realmente foram melhores nos últimos meses. A ausência de outro grande choque é uma boa notícia em si. Mas muitos desafios não resolvidos permanecem, principalmente encontrar um fim rápido e bem-sucedido para a guerra e lidar com as mudanças climáticas. As coisas podem melhorar um pouco. Elas estão longe de serem boas.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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