Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mauricio Stycer
Descrição de chapéu BBB educação

Ex-ministro da Educação é criticado por apoiar candidata do BBB18

Renato Janine Ribeiro pediu votos para a cientista política Mara Telles

Começou mais uma edição, a 18ª, do "Big  Brother Brasil" e logo reapareceram as mensagens de protesto nas redes sociais. A mais famosa e repetida é: "Desligue a TV e vá ler um livro". O filósofo Renato Janine Ribeiro fez o contrário: correu ao Facebook para pedir votos em apoio a uma das candidatas da edição. A confusão que causou é digna de nota.

O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação - Karime Xavier/Folhapress

Como já havia feito na edição anterior, quando selecionou um advogado defensor das causas indígenas, a Globo chamou para o "BBB18" duas militantes políticas com perfil claramente de esquerda. Uma delas foi a cientista política Mara Telles, professora da UFMG.

Desde que o seu nome foi anunciado, Janine Ribeiro se manifestou. "Admiro na Mara Telles a coragem. Escreve posts engraçados aqui no FB. É uma pesquisadora de mão cheia. E agora mete as caras no BBB! Eu a apoio. E espero que ela se divirta lá."

Essa e outras postagens do filósofo provocaram reações enfurecidas de alguns de seus seguidores, inconformados com a sugestão para que assistissem a um programa como o "BBB". Outros se disseram amigos de Mara, mas se revelaram inconformados com a decisão dela de integrar o elenco do reality show da Globo.

Não é de hoje que o professor titular de ética e filosofia política na USP se arrisca na discussão de temas mundanos, como a televisão. O livro "O Afeto Autoritário" (Ateliê Editorial, 224 págs.) reúne artigos que escreveu sobre o assunto para o jornal "O Estado de S. Paulo" e a revista "Bravo". "É errado dizer que a TV não educa. Ela varreu preconceitos de costumes", observou num texto de 2000, ao analisar novelas da Globo.

No prefácio, ele explica o seu interesse pelo tema: "Embora boa parte da produção televisiva seja de baixa qualidade (como, aliás, a de qualquer arte no momento em que ela é produzida --só depois guardamos os seus momentos altos), não gastarei tempo com as litanias usuais que a denunciam. O mais interessante é pensar em suas possibilidades".

Foi pensando nisso, certamente, que o ministro da Educação no segundo governo Dilma pediu votos para salvar Mara Telles do paredão, no início desta semana.

"Uma cientista política progressista, disputando uma eleição (ainda que bizarríssima!) na prática. Ela foi para o paredão, ela vs a menina de voz que ninguém gosta. Pois bem, eu votei e sugiro que votem para Mara continuar no programa."

Mara foi eliminada com 55% dos votos. Ficou apenas oito dias confinada no reality  show da Globo e será mais lembrada por ter gritado "fora, Temer!" ao vivo, ao deixar a casa. Mas a principal mensagem que defendeu e procurou propagar neste período foi a da defesa das mulheres e o combate ao machismo. Não foi bem-sucedida. A primeira votação colocou três mulheres e nenhum homem na berlinda.

Janine Ribeiro lamentou a eliminação de Mara. "É um negócio profundamente de entretenimento, entendo que de baixa qualidade, mas acho interessante uma pessoa mais qualificada se dispor a ir lá. Não tenho nada contra", disse ao repórter Paulo Pacheco, do UOL.

Sobre as críticas que recebeu por apoiar Mara no BBB, o filósofo disse: "Vi muita gente criticando na minha página. Até me espantou ver pessoas irritadas porque ela participou. Ela não fez mal a ninguém. Pessoas estão atacando com ódio. Uma minoria minúscula, mas que está atacando com muito ódio. Eu não entendo isso".

Nos dias de hoje, exige coragem manter um olhar generoso, sem preconceitos, diante da TV.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.