Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Filme sobre Silvio Santos exagera no melodrama

Longa omite fatos, mas lembra que o protagonista cometeu erros graves

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Esperava o pior de "Silvio", a cinebiografia dirigida por Marcelo Antunez, com Rodrigo Faro no papel do empresário e apresentador. Imaginava que seria um filme dedicado a tratar Silvio Santos como um mito, além do bem e do mal, como muitas das biografias escritas a seu respeito.

Felizmente, o filme, que estreia no próximo dia 12, se arrisca um pouco, explorando de forma clara e até didática um episódio-chave, pouco edificante, na vida de Silvio Santos: o seu primeiro casamento, mantido em segredo, por receio de que as fãs o abandonassem.

"Uma das coisas imperdoáveis que fiz", reconheceu Silvio, em 1988. "Quando eu me lembro da minha mulher que morreu e quando eu me lembro que eu dizia que era solteiro... Quando eu me lembro que eu escondia as minhas filhas para poder ser o galã, para poder ser o herói."

O primeiro casamento, com Maria Aparecida Vieira, com quem teve as filhas Cintia e Silvia, é evocado inúmeras vezes no filme, a sinalizar que o herói é humano, falível, capaz de provocar dor a seus mais próximos.

Rodrigo Faro no papel de Silvio Santos no filme - @rodrigofaro no Instagram

Outra característica que chama a atenção em "Silvio" é a despreocupação com o rigor histórico. São muitas pontas soltas, saltos cronológicos e omissões significativas do ponto de vista biográfico.

Para mencionar apenas um exemplo, o filme não cita em momento algum a palavra Globo, onde Silvio trabalhou por cerca de 15 anos. Mas reconstitui uma reunião em que executivos da emissora pressionam Silvio na tentativa de alterarem a forma como a publicidade do programa era explorada.

Essa cena é necessária para entender o desejo que Silvio passa a acalentar de ter o próprio canal de TV, mas um espectador desavisado poderá ter dificuldades de compreender a situação. Também fica sem qualquer contextualização uma frase sobre o dinheiro que Silvio emprestou à Globo no final dos anos 1960.

Com roteiro de Anderson Almeida e crédito de "roteirista" a Newton Cannito, que escreveu a primeira versão, o filme se estrutura em torno das cerca de sete horas em que Silvio Santos foi mantido como refém, dentro da própria casa, por Fernando Dutra Pinto, no dia 30 de agosto de 2001. Enquanto dura o impasse, Silvio rememora episódios de sua trajetória pessoal e profissional.

Poster do filme 'Silvio', com Rodrigo Faro
Cartaz de 'Silvio' - @rodrigofaro no Instagram

Como se sabe, a certa altura do caso Silvio teve a ideia de pedir a presença do então governador Geraldo Alckmin, para dar garantias ao sequestrador de que não seria morto. Alckmin, cujo nome também não é citado, foi muito criticado na época por aceitar esse papel no caso. Foi uma exibição extraordinária do poder de Silvio.

Toda mitologia do apresentador, reconstituída em flashbacks, enfatiza o seu extraordinário poder de comunicação e convencimento. O jovem camelô, o locutor da rádio Guanabara, o aprendiz de Manuel de Nóbrega, a compra do Baú da Felicidade e a ajuda da então primeira-dama Dulce Figueiredo, mulher do general João Figueiredo, para a concessão de um canal de TV.

É também com o gogó que Silvio convence o sequestrador, vivido por Johnnas Oliva, a se entregar ao governador. Na entrevista que deu a Elias Awad, incluída no livro "Você Acredita em Mim?", Dutra Pinto conta que Silvio chegou a lhe oferecer um emprego numa de suas lojas. O autor ironiza: "Só faltou combinar o salário...".

Filmado como um episódio de série policial para a TV aberta, "Silvio" exagera no melodrama, nos planos fechados em caras e bocas e na falta de imaginação visual. As personagens que interpretam as quatro filhas do segundo casamento de Silvio e sua mulher Íris são figurantes de luxo, revezando-se em cenas de choro e angústia.

Faro faz um Silvio contido, circunspecto, que quase nunca sorri. É uma opção bem pensada, que condiz com o filme, mas pode incomodar os fãs que tratam o apresentador como uma divindade.

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