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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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GSI sob Bolsonaro levantou dados sigilosos de Lula e seus filhos na véspera do 1º turno

OUTRO LADO: Órgão e coronel afirmam que procedimento é comum em eleições e também necessário para garantir a segurança do novo presidente e de seus familiares

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Brasília

Militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República levantaram dados sigilosos sobre o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), oponente de Jair Bolsonaro (PL), e seu familiares na véspera do primeiro turno das eleições de 2022.

O dossiê consta em uma comunicação recebida por email pelo coronel Wanderli Baptista da Silva Júnior, então diretor-adjunto do Departamento de Segurança Presidencial do GSI. O militar foi um dos servidores exonerados após ter interagido com golpistas durante a invasão ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro.

Procurados, o órgão e o coronel afirmam que o levantamento subsidia o planejamento da segurança do possível presidente eleito e leva em consideração a probabilidade de vitória indicada por pesquisas eleitorais.

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O então candidato do PT à Presidência, Lula, durante comício na região metropolitana de Belo Horizonte - Marlene Bergamo - 22.out.2022/Folhapress

O material, obtido pela coluna, foi disparado internamente em 29 de setembro do ano passado, a três dias da primeira etapa do pleito. O autor do envio do email é o coronel Artur Santos, hoje coordenador-geral da Secretaria de Segurança Presidencial.

O dossiê reúne uma série de relatórios produzidos pelo próprio GSI entre 2003 e 2008, quando Lula exercia os seus dois primeiros mandatos como presidente. Um organograma reúne fotos do petista, da então primeira-dama, Marisa Letícia, e dos filhos, noras, genros e netos do casal.

Foram resgatadas ainda instruções repassadas a seguranças para fazer a escolta de familiares do petista. As orientações incluíam desde como lidar com abordagens de desconhecidos na rua a como acompanhar a família presidencial em lojas, restaurantes, cinemas, shows, praias e piscinas.

Há dados sobre endereços, cônjuges, namoradas, veículos e hábitos de Lurian, Fábio Luís, Luís Cláudio, Marcos Cláudio e Sandro Luís, filhos de Lula. A maior parte das informações reunidas é antiga e não foi atualizada. Uma delas cita, por exemplo, uma lan house frequentada à época por Luís Cláudio.

Alguns dos relatórios detalham as impressões dos agentes do GSI sobre os herdeiros de Lula e dona Marisa. Diz um documento sobre Fábio Luiz, datado de 2003: "É a voz mais ativa dos filhos, 'manda' nos irmãos."

Sobre Marcos e sua então namorada, afirma um relatório do mesmo ano: "Marcos e Carla são fumantes, e ambos têm o hábito de dirigir com o braço esquerdo para fora da janela. Com certa frequência, apanham lanche no Mc Donald's".

O GSI sob Bolsonaro ainda puxou dados elaborados pela antiga gestão sobre Marisa Letícia, morta em 2017. Um dos relatórios reúne os lugares que a então primeira-dama mais gostava de frequentar em Brasília, como shoppings, igrejas, cafeterias e até mesmo um estabelecimento que vendia crepes de chocolate.

O GSI diz que o procedimento está de acordo com as atribuições legais do órgão. "O planejamento de meios (viaturas, pessoal, equipamento, armamento, instalação de escritórios de representação, dentre outros) é necessário para garantir a segurança do novo presidente e de seus familiares, a partir de 1º de janeiro", diz.

"Em setembro de 2022, o presidente Lula despontava como um dos candidatos favoritos para vencer o pleito. Nesse sentido, o GSI trabalhou com a possibilidade de sua eleição, levantando antecipadamente os dados necessários para garantir a sua segurança e a de seus familiares", acrescenta.

O órgão, no entanto, não respondeu se apurou dados dos outros 11 candidatos à Presidência em 2022 nem qual foi a serventia da documentação sobre Lula e seus familiares, que se encontrava obsoleta ou defasada.

Procurado pela coluna, o coronel Wanderli, a princípio, não quis responder aos questionamentos feitos. "Não tenho interesse em prestar nenhum esclarecimento. Já esclareci tudo o que me foi perguntado na Polícia Federal, no Comando Militar do Planalto e na Sindicância da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI. Em todas as situações, como testemunha", afirmou, por mensagem.

Perguntado especificamente sobre o teor dos relatórios de Lula, Wanderli se manifestou novamente. Segundo o militar, não foram levantados dados de outros candidatos que não se destacavam nas pesquisas eleitorais.

"Confirmo que a documentação foi enviada, sendo solicitada por mim, no contexto dos preparativos da Segurança Presidencial, a partir de 1º de janeiro de 2024. Tal ação foi pautada nos planejamentos, pessoais e logísticos, dos possíveis escritórios regionais de acordo com as cidades que residem os familiares do presidente eleito, de acordo com as atribuições, da segurança do presidente da República (PR), do vice-presidente (VPR) e familiares, do GSI", afirma o coronel, em nota.

"Informo que em 29/09 ainda não tinha assumido a função de diretor-adjunto do Departamento de Segurança Presidencial. No entanto, já estava recebendo a função e estava planejando as possibilidades futuras da segurança do PR, VPR e familiares, em função do resultado das eleições", segue.

"Informo, ainda, que o referido planejamento foi apresentado, posteriormente, a equipe de transição do governo Lula, sendo aperfeiçoado até a posse presidencial", finaliza.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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