Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Cobertura é dano colateral na guerra fria tecnológica

EUA e China, em escalada, voltam a ameaçar jornalistas; agora 'líder do mundo livre', Trump reduz vantagem de Biden nas pesquisas

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A colunista de tecnologia do Wall Street Journal foi testar o Instagram Reels, clone de TikTok lançado pelo Facebook no rastro das ameaças americanas à plataforma chinesa:

“Não encontrei nenhum conteúdo original. Está cheio de memes e danças do TikTok. E simplesmente não funciona. Sem o algoritmo do TikTok sustentando isso, o feed é aleatório, parece atrofiado.”

Acrescentou o colunista da Bloomberg: “E anúncios!!! A quantidade de anúncios é ridícula”.

Na quarta saiu a lista dos apps mais baixados no mundo, em julho, e o TikTok segue na ponta. Dois concorrentes, clones de TikTok, entraram nos dez mais, em aparente resposta às ameaças: Snack Video e Likee. Chineses, ambos.

Ao que tudo indica, será longa a escalada de banimentos e confiscos de empresas chinesas de tecnologia nos EUA, que começou pela Huawei.

Foi acrescentado agora o WeChat, “super app” de mensagens e muito mais da Tencent, inclusive pagamentos —o que o WhatsApp, do Facebook, vem tentando clonar no Brasil, com serviço suspenso pelo Banco Central.

O cerco do governo americano a TikTok e WeChat levou o Facebook ao seu maior valor de mercado nesta semana. E tornou Mark Zuckerberg “centibilionário”, segundo a Bloomberg. Só existem três no mundo, ele, Jeff Bezos, da Amazon, e Bill Gates, da Microsoft.

Na guerra fria de gigantes, primordialmente tecnológica, a imprensa é dano colateral. Desde o início do ano, Washington já teria cassado cerca de 60 jornalistas chineses. Outro tanto não está conseguindo renovar o visto de trabalho.

Pequim teria respondido com número semelhante de jornalistas americanos. E agora outro tanto está enfrentando dificuldade para renovar o visto em Hong Kong.

Fechando a semana, o Twitter passou a impor um rótulo aos tuítes de várias organizações e profissionais chineses, inclusive o influente Hu Xijin, “mídia afiliada ao Estado”.

(O South China Morning Post de Jack Ma, do Alibaba, ficou de fora, mas a Atlantic já se movimenta para rotulá-lo também.)

Mais do que etiquetar, a decisão do Twitter embasou o veto à presença de jornalistas como Hu, por exemplo, nas páginas iniciais e buscas de todos os usuários do Twitter no mundo.

Mas não é o Vale do Silício inteiro que aceita prontamente as pressões. O próprio Zuckerberg, que até pouco tempo atrás falava do perigo vermelho do TikTok, mudou de tom.

Em conferência com funcionários na quinta, relatada pelo BuzzFeed, ele disse que banir o TikTok dos EUA estabeleceria “precedente muito ruim, com consequências de longo prazo noutros países”, contra empresas americanas.

Bezos, o maior “centibilionário”, foi além. Quando a administração da Amazon baixou uma ordem para os funcionários desinstalarem o TikTok, ela caiu em horas. E agora o TikTok lançou seu primeiro app para televisão na Amazon Fire TV.

O Washington Post, que também é de Bezos, mantém a sua conta na plataforma chinesa com produção frenética (imagem acima), inclusive piadas sobre o banimento.

De sua parte, a Microsoft de Gates, historicamente ligada ao mercado chinês, vem tentando manter o TikTok no ar, propondo a compra da operação nos EUA e noutros três dos chamados “Five Eyes”, a aliança de inteligência dos principais países de língua inglesa.

Porém o fato é que, a três meses da eleição presidencial nos EUA, segundo a Bloomberg, “Trump está fazendo de seu desafio à China tema central da campanha” e a estratégia começa a dar resultado.

Ele encerrou a semana com uma redução na dianteira do democrata Joe Biden, na média das pesquisas, de 9 para 6,4 pontos, em menos de um mês. Desde que passou a se apresentar como “o líder do mundo livre”, na expressão de seu novo chefe de campanha.

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