Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Dólar deixa de sorrir 'aos poucos e, depois, de repente'

De Hillary Clinton a Foreign Affairs e Financial Times, já não existe certeza quanto à 'primazia' da moeda americana

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O jornal The New York Times deu manchete para o "aviso" da secretária do Tesouro. "EUA podem ficar sem dinheiro até 1º de junho", se a Câmara republicana "não elevar o teto" do endividamento de Joe Biden.

Os democratas estão subindo o tom. Hillary Clinton assinou no mesmo NYT o artigo "Republicanos estão fazendo o jogo de Xi". Argumenta que eles "estão sabotando a liderança global da América" e dando "uma vitória ao PC Chinês". Mais especificamente:

"Em todo o mundo, governos realizam transações em dólar. A centralidade do dólar dá aos EUA influência de longo alcance, nos permite impor sanções. Se o Congresso seguir flertando com calote, os apelos para destronar o dólar ficarão muito mais altos —e não só em Pequim. Países em todo o mundo."

A Foreign Affairs parafraseou, em artigo: "O Congresso ameaça danificar irreparavelmente a posição global dos EUA. Ninguém deve subestimar o que está em jogo: a primazia do dólar é um tesouro nacional. O dólar perderá sua primazia".

A revista apelou para uma citação que vem se espalhando na discussão sobre o dólar nos EUA, como um alerta, também usado pelo historiador e agora consultor Niall Ferguson na Bloomberg. É do romance "O Sol Também se Levanta", de Ernest Hemingway:

"Como você faliu?", perguntou Bill.

"De duas maneiras", disse Mike. "Aos poucos e, depois, de repente."

Reprodução/Financial Times

O risco para o dólar se evidenciou numa série de textos do Financial Times, por exemplo, ouvindo do bilionário investidor Stanley Druckenmiller, cuja "única convicção" hoje é a aposta contra a moeda americana: "Você tem o Lula correndo por aí perguntando por que temos que fazer negócios com o dólar, e ele está certo".

Na mesma linha, o colunista Ruchir Sarma destacou que os "EUA têm usado sua moeda como arma, mas isso tem um custo", também ao comentar a pergunta que Lula se faz "toda noite". Para Sarma, ex-Morgan Stanley, hoje no grupo Rockefeller, a disparada do ouro já é efeito do dólar enfraquecido.

Com maior repercussão, viralizando a ilustração acima, a tradicional coluna Alphaville do FT destacou a análise do especialista em câmbio Stephen Jen, também ex-Morgan Stanley —onde lançou sua "teoria famosa" de que, quando a economia americana vai muito bem ou muito mal, o dólar sorri, se valoriza.

Hoje na Eurizon, ele soltou nota afirmando que o dólar "sofreu um colapso impressionante" em 2022. A proporção de moeda americana no total das reservas globais, que havia baixado aos poucos de 73% em 2001 para 55% em 2021, caiu de repente para 47%. Escreve ele:

"O dólar está perdendo sua participação como moeda de reserva num ritmo muito maior do que se acredita. Após quedas constantes por duas décadas, em 2022 ele perdeu dez vezes mais rápido. Analistas não conseguiram detectar porque calculam o valor nominal das participações em dólar dos bancos centrais sem considerar as mudanças no preço do dólar. Ajustando, o dólar perdeu 11% de sua participação desde 2016 e o dobro desde 2008. Essa erosão se acelerou vertiginosamente desde o início da guerra. Ações excepcionais tomadas pelos EUA contra a Rússia assustaram grandes países detentores de reservas, a maioria do Sul Global."

Elon Musk concluiu no Twitter, linkando a análise: "Se você usar demais a moeda como arma, outros países vão parar de usá-la".

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