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Paulo Vieira, do Jornalistas que Correm, fala tudo sobre corrida –mesmo aquilo que você não deveria saber

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Descrição de chapéu atletismo

Corrida é prazer

Revoguem-se as disposições em contrário: no pain, no gain, com o devido respeito, é o cacete

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Por alguma razão que os filósofos da vida líquida um dia talvez descubram, a corrida deixou de ter prazer como seu significado imediato, direto, rápido.

Faça um teste de associação livre aí e peça para algum circunstante associar significados à palavra corrida. Devem aparecer "esforço", "suor", "preguiça", "cansaço", "vai indo que eu não vou", "Jesus, com esse calor?".

O próprio fundador de uma assessoria pioneira de corrida do Brasil que tem diversão no nome, mais de 30 anos de bons serviços prestados à saúde principalmente dos paulistanos, uma vez se queixou de que era difícil comunicar que sua empresa treinava diversos malucos que corriam maratonas em ritmo semiprofissional, menos de três horas –e muitos outros que ambicionavam ser como esses.

Corredores percorrem via expressa ao amanhecer
Atletas passam pela Marginal Pinheiros na corrida Asics Golden Run, em 2023 - George Gargiulo/Divulgação

Diversão é corrida?

Sim, e vice-versa. Eis por quê:

1. Com exceção talvez da mesa de bar, poucas coisas se comparam a conversar correndo. Não há (ou não deveria haver) celular, rede social, notificação a atrapalhar uma "charla" que pode passar de uma hora inteira. Plus: com certo aumento de ritmo, essa "movida" pode vir com endorfina.

(Assessorias de corrida, que promovem necessariamente esse encontro e têm nele um ímã importante de atração e manutenção de alunos, certamente subscrevem e dão fé ao argumento.)

2. A corrida é uma ferramenta privilegiada para conhecer lugares novos, fazendo do praticante o seu próprio veículo de turismo. A vantagem é que aqui o veículo pode enfrentar de singletracks a avenidas monumentais. À medida que ganhamos capacidade de correr mais e mais quilômetros, mais autonomia para o "turismo".

3. A corrida não é um portal exclusivo de acesso à natureza –você pode chegar lá de carro, ônibus, bike etc.–, mas ajuda muito nesse contato. Eu só me tornei assíduo de alguns parques paulistanos por conta da corrida. E quando não é possível deixar a metrópole em mais um fim de semana, o fato de correr por suas ruas, bairros ou parques quase emula o efeito prazeroso da escapada. E, melhor, anula a sensação ruim do fim de semana perdido.

Embora tenha desdenhado no título do bordão máximo da maromba, "no pain, no gain" (sem dor, fica pequeno, em tradução livre), há, devo admitir, alguma pertinência nele. Sair da zona de conforto, ou, em termos mais técnicos, quebrar a homeostase, o ambiente interno já conhecido, e que nosso corpo luta para manter, é imperativo para ganhar condicionamento físico e melhorar a performance.

Lembre-se disso quando seu treinador pedir para você colocar mais um treino intervalado –ou uma subida– na planilha.

Por fim, e vocês não leram isso aqui: a corrida só fica boa mesmo quando acaba. É que aí vem uma disposição assombrosa, quase sobrenatural, para encarar o dia (ou a noite, vai que.). Eis o grande paradoxo do prazer da corrida.

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