Denise Batista dos Santos, 29, deu graças a Deus por Hugo aparecer em sua vida. E depois sumir dela.
É verdade que ele trouxe caos e muita decepção, mas também chegou um dia com uma vira-lata caramelo. Aí, sim, a empregada doméstica viu vantagem nos três anos aos trancos e barrancos que viveu com o conterrâneo de Crisópolis (BA). "Agradeço muito porque meu ex não deixou quase nada de bom, mas deixou a Mel."
Denise já queria comprar um cachorro, e não um qualquer —curtia a ideia de ter um shih tzu "bem fofinho e peludo". Até que Hugo, voltando de pileque após um barzinho com camaradas, na véspera do segundo turno de 2018, cruzou com uma cachorrinha toda machucada e decidiu levá-la para a casa onde eles moravam em Paraisópolis (zona sul paulistana).
Foi amor à primeira latida. Levaram a nova moradora para o veterinário, trataram um problema no ouvido. Mel, assim nomeada por conta dos pelos acastanhados, roeu todas as Havaianas que achou pelo caminho, tudo o que é pé de cadeira, umas trocentas almofadas, até um cobertor lilás de estimação. A dona ali era ela. Dona do pedaço e do coração de Denise.
Denise e Hugo se conheceram na terra natal deles, no interior baiano. Com muita cerveja na cabeça e fogo no rabo, foram o assunto da cidade naquele dia. Ela estava de férias lá, e a paixão os avassalou de tal maneira que ele resolveu se mudar para São Paulo com a moça.
Não tinha como dar certo. Ela era o yin, ele, o yang. A mulher preferia o sossego caseiro, e o marido, a farra e o goró. Uma queria passar a noite sob o edredom quentinho, o outro, beber todas no baile funk. Que seja eterno enquanto dure, até que o bode um do outro os separe.
A gota d’água, ela conta, foi uma "cachorra" de outra natureza. Quem tinha ido passar férias na Bahia agora era Hugo, e, na cidadezinha onde todos se conhecem, a traiu "pra todo mundo ficar sabendo". Foi feia a coisa. Quando voltou à capital paulista, Denise já não queria mais nada com ele. Só com o legado que deixou para trás. Mel ficou com ela.
É uma relação de mãe e filha, diz. Se vai na padaria, o pãozinho francês da vira-lata é sagrado. Chegou a comprar três caminhas diferentes até a companheira peluda se aquietar com uma que gostasse.
Houve um tempo em que Hugo, já com status de pretérito, até tentou manter contato. Um dia, ao telefone com a ex, ele ouviu um latido no fundo e achou por bem zombar: "Ah, Mel ainda tá viva, é?". Denise só conseguiu rebater: "Queria que estivesse morta?".
Ali Hugo morreu pra sempre para ela. A cadela ladrou, e a caravana passou. Denise já namorou outro rapaz nesse meio tempo, a quem a vira-lata se apegou demais. Mel se aninhou perto da dona quando esse relacionamento acabou. Também sentiu a perda. É como diz o ditado: Denise não confia em pessoas que não gostam de cachorro, mas confia 100% no cachorro que não gosta de uma pessoa.
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