A sessão da Câmara dos Deputados que discutiu a medida provisória 905, da carteira de trabalho verde-amarela, varou a madrugada nesta terça (14) e nem todos os deputados resistiram.

Passava da meia-noite quando a câmera flagrou o deputado Charles Fernandes (PSD-BA) levantando da cama de um aparente cochilo.

Neste momento a oposição obstruía a votação, recorrendo a uma sequência de discursos com o objetivo de ganhar tempo e evitar o placar desfavorável. Nada novo na rotina parlamentar, a novidade é trabalhar de casa.

Ao Painel, Charles, que está votando de sua casa em Guanambi, no interior da Bahia, disse que não desliga a câmera durante as sessões remotas, mas às vezes sai do vídeo e dá uma recostada, acompanhando a apenas pelo áudio. "Apanhando um mosquito aqui e ali, como diz o outro, mas acompanhando a sessão", diz.

Nesta terça (14), ele diz que o debate começou cedo, perto de 16h, e seguiu sem intervalo.

"Eu dei uma cochilada mesmo, mas eu votei em todas. Não ficou nenhuma sem votar", afirmou. "Começamos tarde e você fica ali sentado ouvindo... o cansaço bateu, foram muitas horas seguidas de votação".

Ele votou contra a MP. "Não é hora de mexer no direito dos trabalhadores".

Charles diz sentir falta das sessões presenciais e que, desde que começou o trabalho remoto, só conseguiu dar a sua opinião uma vez sobre o assunto colocado em votação. Para ele, o trabalho aumentou.

"O Congresso nunca trabalhou tanto como agora. Na semana passada, a gente trabalhou até sexta-feira", afirmou, referindo-se à tradicional Brasília esvaziada, com apenas discursos solitários de parlamentares, interessados em gravar a aparição para difundir em suas redes sociais.

A sessão alongada não teve só cochilo. Durante as intervenções do deputado Marcelo Ramos (PL-AM), chamou a atenção dos colegas o cenário. Marcelo primeiro estava acompanhado de um boneco do Homem Aranha, depois de um ursinho de pelúcia.

O ambiente eram os quartos dos filhos de 4 e 7 anos, o que foi considerado "fofo" por parlamentares que acompanhavam a votação. O pai-deputado trabalha sob nova pressão na rotina de votação remota.

"Meu escritório é uma mesa no canto da sala e, com as crianças em casa, elas ficam muito agitadas. Então ou fico no quarto de um deles ou no meio da sala, mas aí eles tocam o terror", diz.