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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Restaurante também é essencial, afirma dono do Madero

Um ano após prever que o estrago econômico seria maior do que as mortes na pandemia, Durski diz que contratou mais de mil pessoas

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São Paulo

Em março de 2020, o empresário Junior Durski, dono das redes de restaurantes Madero e Jeronimo, provocou uma forte repercussão quando disse que o Brasil não podia parar por causa da pandemia e que as consequências econômicas seriam muito maiores do que as mortes.

Um ano depois, a empresa contratou 1.100 pessoas e readmitiu as que precisou cortar na crise, segundo ele. O plano de expansão teve de ser enxugado, mas continuou de pé. Foram 44 novas lojas em 2020 e, para este ano, a meta é ter outras 35.

Diante de toda a repercussão que teve no início da pandemia e do erro nas previsões (Durski achava que as mortes ficariam entre 5.000 e 7.000), o empresário evita falar em política e comentar a gestão do governo na crise sanitária.

"Não é meu ramo. Não é meu negócio", disse Durski ao Painel S.A. nesta segunda (8).

E ele não se arrisca a fazer novas previsões. "O negócio é baixar a cabeça e trabalhar", afirma.

Homem de jaleco branco aparece com os braços cruzados em cima de uma mesa. Nela, estão quatro hambúrgueres. Na parece ao fundo há uma parede com desenhos coloridos.
Junior Durski, presidente do grupo Madero e Jeronimo. - Brunno Covello/Folhapress

O delivery volta como alternativa diante das novas restrições de circulação enquanto a falta de papel para embalagem eleva os preços e os estoques. O drive thru foi bem, segundo o empresário, que aguarda uma nova máquina da Alemanha para incrementar o modelo.

Durski diz que respeita as medidas de restrição e cumpre o que for determinado, mas acredita que os restaurantes não são menos seguros que um ônibus ou um supermercado lotado.

"Restaurante é essencial também. As pessoas precisam comer", afirma.

Vocês estão fechando tudo? Como está o desempenho do delivery? Ele segura?

Estamos fazendo delivery em todos os restaurantes, take away [quando o cliente pede comida para levar] e vivendo também do presencial, que não está no zero. O Brasil é muito grande. Tem muitos lugares funcionando. Com todos os ajustes que fizemos, estamos no breakeven [ponto de equilíbrio das contas] e tocando.

Como evoluiu o delivery o longo da pandemia? Veio aumentando?

Não. Veio diminuindo. Teve o auge em março, abril do ano passado, quando não tinha nada de salão aberto. Aí começou a flexibilizar, voltar a venda presencial e diminuir um pouco o delivery. A venda como um todo veio subindo, mas a colocação virou mais presencial e um pouco menos de delivery. Mas, ainda assim, o delivery é muito forte. O drive thru foi muito bem. Temos no Jeronimo, mas não no Madero. E ampliamos bem durante a pandemia. No ano passado abrimos 44 restaurantes novos, mesmo com pandemia.

O plano de expansão foi mantido e cumprido?

Não. Nós íamos fazer 65 restaurantes no ano passado. Fizemos 44. Reduzimos, mas, ainda assim, estamos bem.

E para 2021? Qual é o plano?

Vamos fazer 35 restaurantes novos. Era para ser 65. A gente vai olhando no retrovisor. Se melhorar, vamos tentar fazer os 65. Mas como não melhora, por enquanto, estamos mantendo os 35.

E o drive thru? Tem planos de expandir para o Madero também?

A gente só tem no Jeronimo. O drive thru tem uma particularidade. Precisa ter um produto muito rápido para entregar, senão a fila cresce lá fora e bloqueia o trânsito. O Madero demora nove minutos para fazer o hambúrguer. Esse tempo é acima do possível para um drive thru. Estamos trabalhando para baixar para seis minutos. Estamos esperando uma máquina que chega neste mês, que foi desenvolvida para nós na Alemanha, e o fornecedor garante que vamos conseguir grelhar em seis minutos com a mesma qualidade. Se der certo, podemos fazer o drive thru, mas por enquanto, não.

E falta de matéria-prima? Papel para embalagem? Vocês estão sofrendo isso?

Muito. Está faltando embalagem de plástico e de papel. Subiu bastante, mais de 30%. Muita coisa subiu. A carne subiu muito, o que impacta no nosso negócio. O óleo de milho, que a gente faz a maionese, quase dobrou de preço do ano passado para cá. Nas embalagens a gente vai fazendo estoque maior. Tem um investimento maior em estoque. Muito produto importado. Antes, a gente mantinha 90 dias de estoque. Hoje, oito meses para garantir. Sacola de papel a gente mantinha 15 a 20 dias e deixava o estoque no fornecedor. Hoje, temos três meses de estoque e, com isso, garante que não vai faltar. Está muito mais caro.

Como estão as demissões de funcionários? No ano passado, vocês tiveram um corte do pessoal que ia ser mantido em treinamento. Como ficou?

Isso. O nosso programa Tamo Junto. Nós recontratamos todos os funcionários que nós demitimos. E, de lá para cá, contratamos mais 1.100. Isso por causa da expansão do número de lojas.

O sr. fez declarações fortes no começo da pandemia sobre a quantidade de mortes. Agora estamos acelerando de novo. Como está vendo o momento atual da pandemia?

Estou torcendo para que tenha vacina logo, e o Brasil volte ao normal.

Qual é a sua avaliação sobre a gestão que o governo tem feito da pandemia?

Não sei. Não é o meu ramo. Não é o meu negócio. Vou tocar o meu negócio e a minha vida. Os políticos tocam os estados, a cidade, o Brasil. É difícil falar. Aqui em Curitiba tem o lockdown duro, fechado. Tem toque de recolher às 20h. Mas é certo? Errado? Não sei. Eles que devem saber. Eles que devem ter os dados. Vou fazer o que me mandarem.

Faz um ano de pandemia e estamos ultrapassando recordes. O sr. imaginava, há um ano, que estaríamos assim?

É uma pena. Uma tristeza. O mundo inteiro está assim. Acho que ninguém em sã consciência poderia imaginar uma coisa dessas. Mas acho que está todo mundo se adptando, se virando, ajustando, apertando o cinto, ajustando a despesa. Também não se sabe o que vai acontecer. Vai acabar daqui a dois meses porque vacinou muita gente? Não vai? Não sei. Não tenho ideia. Acho que ninguém sabe. E a gente vê um monte de governador e prefeito indo para um lado ou para outro. Não tem uma coisa bem coordenada. O negócio é baixar a cabeça e trabalhar.

O sr. concorda com o lockdown? O setor de restaurantes tem dito que está tendo muita festa clandestina, a fiscalização está ruim e os restaurantes estão sendo penalizados. É assim que o sr. está pensando também?

É claro que eu penso. Os restaurantes seguem rigorosamente todos os protocolos de segurança. Em restaurante não tem aglomeração. Não é como ônibus, fila do supermercado. No restaurante, tem um em cada cadeira. No supermercado, um do lado do outro. Os restaurantes não são vilões. Não são mais nem menos seguros ou inseguros do que outras atividades. E restaurante é essencial também. As pessoas precisam comer. Não é todo mundo que faz em casa. Não é bem assim. Em São Paulo, no final de semana, o delivery estava demorando duas horas, porque estava todo mundo pedindo. Aí não tem tanto motoboy, chove, não tem alternativa. Em algumas cidades, não pode sair depois das 20h, como Curitiba, Ponta Grossa, no Paraná. Não pode nem ir no Jeronimo pegar drive thru com o carro. A prefeita de Ponta Grossa é ótima. Eu admiro, respeito. Não concordo com a medida, mas tenho certeza de que ela está fazendo de tudo para acertar.

com Filipe Oliveira e Andressa Motter

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