Painel S.A.

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Painel S.A.

Eleição de Lula expõe xenofobia em grupo de lobistas de empresas

Caso terminou com expulsão e abertura de processo disciplinar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva gerou ataques xenófobos contra nordestinos no grupo de Whatsapp da Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais), que reúne lobistas das principais empresas do país.

As agressões partiram do administrador de empresas Daniel Sousa, que atuava para a biofarmacêutica Takeda até agosto e é descrito na revista da Abrig como uma das dezenas de profissionais que "constroem a entidade".

"Bora. Ver o Brasil se f… Por causa do Nordeste", escreveu Sousa.

Os colegas reagiram contra a mensagem e pediram explicações, o que desencadeou mais opiniões do mesmo tipo, quase todas sugerindo que São Paulo é superior ou sustenta a economia dos estados nordestinos.

Imagem mostra homem segurando toalha vermelha com rosto de Lula. Ao lado, há uma toalha com a foto de Jair Bolsonaro.
Comércio de toalhas e de produtos relacionados às campanhas de Lula (PT) e Bolsonaro (PL), na rua 25 de Março, em São Paulo - Rubens Cavallari - 20.out.22/Folhapress

Comentários contra o eleitorado do Nordeste —decisivo para que Lula derrotasse Jair Bolsonaro (PL)— começaram na noite de domingo, após a proclamação do resultado.

Imediatamente, o presidente do Conselho de Ética da entidade, Paulo Castelo Branco, advertiu que os comentários não eram aceitáveis. Disse que, na condição que ocupam, os lobistas terão de negociar com a gestão do PT a partir de 2023.

Num tom de constrangimento, Castelo Branco interveio nas conversas e pediu que os profissionais ligados à entidade se abstivessem "de comentários preconceituosos" que atingem interesses comuns da categoria".

"Defenderemos nossos clientes perante o próximo governo e parlamento, com os mesmos princípios de transparência, ética, respeito à Constituição e às leis. Este é o nosso trabalho", escreveu.

Lula teve 69,74% dos votos válidos no Nordeste, contra 30,66% de Jair Bolsonaro. A ampla margem na região foi decisiva, mas ele não se sairia vitorioso caso não tivesse conseguido melhorar o desempenho de candidaturas do PT em São Paulo. No estado, o atual presidente conseguiu apoio de 55,24% dos votantes. Lula alcançou 44,76%.

Nas mensagens, Sousa chama Lula de presidiário e de "o maior ladrão da história".

"SP é quem manda dinheiro pro Nordeste", "SP, o país que mais colabora com o PIB do Brasil", "Ainda bem que SP não deu nada pra o PI [PT]" e "São Paulo não elegeu nenhum verme do PT" foram algumas das frases que ele disparou.

No grupo de Whatsapp da Abrig, houve mais manifestações contrárias à postura do gerente da farmacêutica. Os integrantes pediram civilidade e equilíbrio, mas não conseguiram baixar a temperatura. Foram chamados de "esquerdopatas" e comunas por outros dois integrantes do grupo que faziam coro a Sousa.

"Há que se ter um cuidado com todo tipo de preconceito, seja de gênero, raça ou procedência, nos quadro da Abrig", afirmou Rafael Favetti, também do Conselho de Ética da entidade. "Que prevaleça a postura corporativa", disse Leandro Gabiati, da Dominium Consultoria.

O caso gerou uma representação contra Sousa na diretoria da Abrig. Castelo Branco disse à Folha que ela será encaminhada ao Conselho de Ética, que abrirá um processo a respeito, nomeará um relator e notificará o denunciado para que apresente sua defesa.

Lobista disse ter família nordestina

Procurado, Sousa afirmou que se retratou à Abrig e que não tem mais vínculos com a entidade. Ele alega que tem origens nordestinas e que as mensagens foram feitas no momento do discurso de Lula, após a vitória no segundo turno, em "um momento acalorado".

Por meio de sua assessoria, a Takeda confirma que Daniel Souza deixou a empresa em agosto deste ano. A empresa diz que segue "princípios absolutamente contrários aos expressos no texto e rechaça qualquer atitude de preconceito ou ofensa a quaisquer grupos ou pessoas".

"Baseada nos valores de integridade, justiça, honestidade e perseverança, estabelecidos durante os mais de 240 anos de trajetória da empresa, desenvolvemos um intenso trabalho na busca por um ambiente seguro, diverso e livre de discriminação, respeitando a diversidade dos países em que atuamos", disse a Takeda em nota.

Por meio de sua assessoria, a Abrig disse que não compactua com manifestações e declarações antidemocráticas ou preconceituosas realizadas por qualquer pessoa acerca dos resultados das eleições.

A associação afirma que, seguindo suas normas, "procedeu com as medidas cabíveis e o referido autor das mensagens não está mais nos grupos de atividades e nos quadros ativos da entidade".

Julio Wiziack (interino) com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.