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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu tecnologia

Roku quer país para rivalizar com gigantes como Amazon e Google, diz executivo

Plano é popularizar plataforma que transforma TV comum em smart, transmitindo por streaming

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São Paulo

Gigante do streaming nos EUA, a Roku chegou ao Brasil em janeiro de 2020, um mês antes da pandemia. De lá pra cá, Arthur van Rest, vice-presidente internacional da companhia, já fez do Brasil ponto de parada obrigatório.

A empresa disputa mercado com a Amazon e o Google, big techs que oferecem os chamados "sticks", pequenos dispositivos que, quando plugados à TV por entrada HDMI ou USB, transformam os aparelhos em smart.

Em entrevista ao Painel S.A., van Rest afirma que o Brasil deve seguir o caminho do México, onde o grupo levou cinco anos para se consolidar como grande competidor. Essa virada chegará quando os brasileiros se derem conta de que não é preciso gastar muito para fazer um upgrade em suas televisões.

No país a companhia mantém parcerias com a AOC, Philco, Semp e TCL, fornecendo software integrado aos sistemas das televisões produzidas por essas empresas.

Neste ano, fechou patrocínio com o São Paulo Futebol Clube e integrou o painel de expositores da Comic Con Experience (CCXP), um dos grandes eventos da cultura pop no país.

A Roku chegou ao país um mês antes da pandemia. Isso atrapalhou? A Covid acelerou nossos processos em dois anos. Já estávamos no mercado antes e a moda [do streaming] já tinha começado no Brasil.

Quando estive aqui pela primeira vez, em 2019, as opções eram restritas ao Netflix e YouTube. Agora temos HBO Max, Amazon, Globoplay e outros players voltados diretamente para o consumidor. É um mercado mais aberto.

Como conseguiram se tornar uma das grandes companhias do mercado? A complexidade dos softwares da televisão mudou muito nos últimos 20 anos. Antigamente era necessário ter apenas um aparelho para decodificar o sinal da transmissão e era tudo bem estável. Como não havia muita mudança nesse processo, as exigências de software das TVs eram pequenas. Inovação e desenvolvimento estavam mais ligados ao display [tela] do que ao sistema.

Nos últimos cinco anos, essas exigências mudaram rapidamente. Não é mais um processo estável e você precisa inovar, ter mais conteúdo, saber administrar esses serviços –e todos eles contam com certificações muito específicas.

Acreditamos que todas as empresas vão acabar usando licenças de código aberto, como fazemos agora. É só uma questão de tempo, porque é muito difícil para cada fabricante de TV administrar essas mudanças.

Temos centenas de engenheiros que trabalham o tempo todo com atualização de software e diversas marcas que trabalham com o Roku OS [open source, código aberto, em inglês] no mundo.

Os consumidores se beneficiam disso, porque além deles receberem os serviços de conteúdo mais recentes, também recebem novas ferramentas e funcionalidades. Como usamos o mesmo sistema em todas as TVs, atualizamos todos com novidades o tempo todo. É uma televisão mais viva e que só melhora.

Arthur van Rest, vice-presidente internacional da Roku
Arthur van Rest, vice-presidente internacional da Roku - Divulgação

No início de sua carreira, era possível pensar no tipo de tecnologia que temos hoje? A diferença de quando comecei a trabalhar é que nós vendíamos as TVs para o cliente e agora esse é só o início da experiência. Comecei na Sony e toda minha carreira foi feita na experiência do consumidor com os eletrônicos. Antes era mais sobre vender hardwares [equipamentos] de alta qualidade e menos sobre o software [programas e sistemas embarcados].

Hoje o foco está nas experiências do usuário. Na Roku, fazemos bons aparelhos, mas nossos esforços estão na experiência do cliente com o programa.

Por isso, direcionamos os investimentos para melhoria em software. Ninguém previu essa mudança 30 anos atrás, mas acho que, nos últimos cinco anos, as coisas aceleraram.

Nosso trabalho hoje é garantir que ele goste do serviço, que siga acompanhando as transmissões de streaming. Queremos garantir que tenha mais acesso e facilidade aos serviços, por um preço mais baixo. É neste ponto que o mercado mudou. É mais sobre pensar uma relação de troca constante com o cliente do que era 30 anos atrás.

Em relação aos consumidores brasileiros, quais são as demandas mais comuns? Nosso sistema é muito fácil de ser usado. Ele é bem simples e os serviços estão disponíveis a um clique do usuário. Como nosso OS [sistema operacional] é feito para a TV, conseguimos diminuir o preço e tornar o streaming mais acessível.

Em outros países, como Estados Unidos, a Roku produz aparelhos que operam com tecnologia 4K
Em outros países, como Estados Unidos, a Roku produz aparelhos que operam com tecnologia 4K - AFP

Bons conteúdos e preços baixos sempre serão populares e essa é a fórmula que funciona em todos os países do mundo. No Brasil, alinhamos TVs com preços competitivos ao tipo de conteúdo que as pessoas gostam.

Quais são as projeções da Roku para 2023? Seguir trabalhando com nossos parceiros locais e ampliar as vendas. Essa é uma grande oportunidade para nós no Brasil, porque existe uma base muito grande de TVs instaladas aqui. Assim que as pessoas entenderem que elas podem dar um upgrade nas TVs apenas adicionando um produto da Roku, por exemplo, será um ponto de virada no mercado brasileiro.

As pessoas ainda não conhecem muito bem esse tipo de produto, por isso fechamos parcerias com o São Paulo Futebol Clube e integramos a CCXP. São investimentos não somente para a Roku, mas para a cultura do streaming de forma geral.

Existe alguma expectativa de a Roku trazer para o Brasil produtos já estabelecidos em outros países, como o Roku 4K [aparelho que transforma a qualidade da imagem em altíssima definição]? Em outros mercados temos outros produtos, mas trabalhamos para ampliar o portfólio de empresas parceiras e serviços no Brasil. Eu diria que ainda estamos bem no começo do desenvolvimento de mercado, então ainda temos muitas oportunidades de trazer novos produtos, mais parceiros e fazer mais negócios aqui.

No México, por exemplo, cinco anos atrás começamos com duas ou três empresas de TV. Hoje são 14 empresas mexicanas usando a Roku e nos consolidamos no mercado. No Brasil, é bem possível que sigamos o mesmo modelo nos próximos anos.

A Roku produz aparelhos no Brasil? E existe alguma projeção de fabricação das próprias TVs nos próximos anos? Fazemos os produtos da Roku em Manaus. É parte do nosso compromisso com o Brasil mostrar que estamos empenhados em permanecer aqui, ampliando nosso espaço no mercado. Sobre a fabricação própria, estamos felizes com os nossos parceiros e falar em marca própria da Roku seria mera especulação.


Raio-X

Arthur van Rest

Carreira: São quase 30 anos de experiência no setor de tecnologia voltada à experiência do consumidor. Iniciou a carreira na Sony, em 1993, passou pela Virgin, Philips, Belkin, Amazon e está na Roku desde 2018.

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