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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Energia em transição

Na guerra da energia limpa, hidrelétricas defendem mudança de regras de leilão

Associação de geradoras afirma que disputa por preço mais baixo acaba encarecendo conta de luz

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Brasília

Charles Lenzi preside a Abragel, associação de geradoras de energia limpa, a maioria hidrelétricas. Defensor de todas as tecnologias, ele apresentou ao governo um estudo nesta semana para mostrar que os leilões, definidos pelo critério de menor preço por megawatt-hora, estão encarecendo a conta de luz ano a ano.

Chales Lenzi, presidente da Abragel (Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa)
Chales Lenzi, presidente da Abragel (Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa) - Divulgação

Isso não é um ataque às fontes solar e eólica?
Não é uma crítica a nenhuma fonte. Todas elas são importantes para o sistema elétrico, mas todas carregam custos indiretos diferentes, que não são considerados no cálculo da energia contratada pelo governo nos leilões.

Como assim?
Em Belo Monte, o preço da energia foi fixado em R$ 75 o MWh [megawatt-hora]. Mas para chegar no Sudeste, por exemplo, era preciso construir linhas de transmissão cujo custo, se fosse computado, dobraria o valor da energia da usina. Esse custo foi posteriormente repassado para a tarifa e dividido pelos consumidores.

Qual é a energia mais barata?
A hidráulica. O estudo da consultoria Volt Robotics mostra que esses custos indiretos são maiores na solar (equivalem a 67% do custo total) e na eólica (54%). Nas hidrelétricas, eles representam só 15% e, nas PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas], 27%.

O governo poderia discriminar fontes e dizer de qual delas compraria a energia mais barata?
Não, mas pode definir requisitos técnicos para a compra. Em um leilão de capacidade [para energia de segurança com carga elevada] exigiria uma tecnologia capaz de entregar potência em um intervalo curto de tempo, algo que nem todas conseguem.

Isso é uma forma de direcionar a disputa, não?
Sem dúvida. No passado, o presidente do ONS [Operador Nacional do Sistema] defendia a realização de leilões por região do país. Isso para evitar que o Sul, por exemplo, que precisava de geração firme, fosse abastecido por uma geração eólica do Nordeste.

De novo, não é uma defesa das hidrelétricas?
Não dá para abrir mão de hidrelétrica em um país com muito potencial a ser explorado. A bateria natural de energia que temos é a hidráulica.

Mas o impacto ambiental é maior.
Sim, mas acho que importamos um conceito europeu de que fonte renovável é eólica ou solar. Só que lá eles não têm potencial hídrico. O Reino Unido saiu do carvão e não tem matriz hidráulica expressiva. Em contrapartida, a Áustria tem cerca de 4.000 pequenas centrais hidrelétricas.


Raio-X | Charles Lenzi

Engenheiro elétrico e mestre em Administração de Empresas pela PUC-RS. Fez carreira no setor elétrico. Entre 1998 a 2008 ocupou diversas posições de liderança no grupo AES em países como Brasil, Índia e Venezuela. Foi diretor-superintendente do Grupo Stefani entre 2008 e 2010; presidente da Eletropaulo (2015 a 2018) e COO da AES Brasil (2016 a 2017). Hoje preside a Abragel.

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