Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

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Paula Cesarino Costa
Descrição de chapéu Eleições 2018

Boa jogada

Plataforma da Folha que ajuda a escolher deputado é caso de merecido sucesso

Apenas 31% dos brasileiros dizem ter confiança no atual Congresso Nacional, a pior avaliação detectada pelo Datafolha. O cadente apoio ao Legislativo se justifica. Parcela significativa —40% dos 594 deputados e senadores da atual legislatura— responde a algum tipo de processo na Justiça. Somente a Operação Lava Jato investiga 55 parlamentares.

Ilustração da coluna Ombudsman do dia 2.set.2018
Carvall

É um cenário desolador para Casas onde, durante os últimos quatro anos, foram votados pontos polêmicos que dividiram o país, como a reforma trabalhista, o impeachment de Dilma Rousseff e a investigação de corrupção contra o presidente Michel Temer.

Em 7 de outubro, serão eleitos 513 novos deputados federais e 54 (dos 81) senadores. Em quem você, (e)leitor, pretende votar? Aliás, em quem mesmo você votou na eleição passada, em 2014?

A porcentagem dos brasileiros que não lembram em quem votou para a Câmara e o Senado varia de 30% a 79%, dependendo do levantamento e da distância da eleição.

Como escolher em quem votar para deputado? O que o leitor deve levar em conta? Como obter informações sobre os inumeráveis candidatos? Na segunda-feira (27), a Folha lançou ferramenta que deve ajudar o eleitor a fazer essa escolha: o Match Eleitoral

A partir de um formulário com 20 perguntas objetivas —sobre inflação, desenvolvimento, privatização, intervenção do Estado na economia, aborto, drogas— com as quais o leitor e o candidato deve manifestar concordância ou discordância, chega-se a uma lista de nomes mais afinados entre si.

Existem ao menos outros oito programas similares no Brasil, além de várias outras experiências internacionais.

Inspirado em aplicativo de encontros, o Match “vai ajudar a quebrar o círculo vicioso de escolha malfeita, eleito descompromissado e baixa identificação entre eleitor e eleito”, na visão do superintendente do Grupo Folha, Antonio Manuel Teixeira Mendes.

Para o editor-executivo Sérgio Dávila, “é um divisor de águas e um salto adiante na tradicional cobertura dos jornais de colocar alguns (poucos) candidatos escolhidos pela Redação para vender seu peixe em seções diárias”.

Se não tenho dúvida da relevância e da utilidade, a ferramenta ainda precisa de ajustes. Por exemplo, o perfil dos candidatos é sucinto demais. Um projeto completo incluiria obrigatoriamente a posição daqueles que são candidatos à reeleição nas principais votações desta legislatura.

Outra crítica que fiz é sobre sua pequena abrangência. A direção do jornal informou que o Match em breve passará a atender, além de São Paulo, eleitores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Provavelmente também deverá incluir os candidatos ao Senado.

A cobertura parlamentar sempre foi difícil para os jornais. Considero escassos o acompanhamento detalhado e a investigação relevante sobre as ações parlamentares, sem o investimento em ferramentas permanentes que ajudem o eleitor a vigiar a atuação do parlamentar que recebeu seu voto. Foram poucas as reportagens sobre a campanha para o Legislativo.

Alguns leitores já sugeriram que o jornal identificasse, de forma fácil, quais candidatos têm processos na Justiça e por qual razão —explicitando se foram investigados, denunciados ou condenados.

Esta Folha já teve, por exemplo, o chamado Olho no Congresso, instrumento precioso de avaliação da atuação de cada parlamentar, com dados sobre presença e posição de deputados e senadores em votações de temas relevantes. 

O projeto foi abandonado há algumas legislaturas.

O diretor da Sucursal de Brasília, Leandro Colon, e o editor de Poder, Fábio Zanini, consideram que é tradicionalmente desafiadora a cobertura do Congresso e a eleição para o Legislativo, seja pela fragmentação das campanhas, seja pelo fato de ficarem sob a sombra do Executivo no debate político.

“Acompanhar os 513 deputados individualmente é impossível. Procuramos filtrar e focar o noticiário nas discussões e votações relevantes para o país”, argumentam.

Eles discordam de que a Folha dedique pouco espaço ao tema e afirmam que o Legislativo é uma prioridade editorial. Citaram como exemplo reportagens sobre o poder das dinastias e dos caciques políticos mais conhecidos, além de outras que retratam o fisiologismo no Congresso.

São boas reportagens, mas episódicas em meio a barafunda editorial do dia a dia. A meu ver, faltam cobertura sistemática e crítica e ferramentas digitais facilitadoras para avaliações específicas —presença, projetos apresentados, forma como cada um votou nos temas relevantes da legislatura, envolvimento em escândalos.

O Match é um excelente ponto de partida para uma cobertura constante e mais objetiva, qualificada e relevante do Congresso Nacional.

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