Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

Brasil é 81º no ranking mundial de vacinação

País precisa triplicar ritmo para atingir a meta de 1,5 milhão por dia

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Em qualquer curso básico de epidemiologia, uma das primeiras aulas é sobre a importância do denominador. Ao ignorarmos o denominador, podemos passar mensagens equivocadas para os leitores, por ingenuidade ou por má-fé. Em março, o presidente da República disse que o Brasil era o 5º país do mundo que mais vacinava sua população, utilizando números absolutos. Nem o presidente nem sua assessoria de imprensa são ingênuos, ou ignoraram o denominador por acaso. Foi uma tentativa desesperada de manipulação da opinião pública, cada vez mais indignada com as mais de 300 mil mortes evitáveis ocorridas por Covid-19 no Brasil.

O problema é que manipular dados ou apresentá-los da forma mais conveniente politicamente não salva vidas. O que salva vidas é a vacina. Até a manhã do dia 15 de maio, apenas 18,1% da população brasileira havia recebido a primeira dose, e míseros 9,0% estavam imunizados com a segunda dose. De 17 de janeiro a 15 de maio, o Brasil administrou 486 mil doses de vacina por dia. Precisamos triplicar esse ritmo para atingir a meta de 1,5 milhão por dia.

Acelerar a vacinação deveria ser a grande prioridade do Ministério da Saúde e do Palácio do Planalto. No entanto...

Em entrevista recente, o presidente voltou a atacar a China, insinuando que a Covid-19 faz parte de uma “guerra biológica”. Poucos dias depois, tanto a Fiocruz quanto o Butantan informaram que terão que paralisar a produção de vacinas por falta do ingrediente farmacêutico ativo (IFA). Vocês sabem de onde vem o IFA, né?

Não podemos esquecer que, no ano passado, o presidente garantiu que "A (vacina) da China nós não compraremos, é decisão minha”. Se não tivesse recuado da estúpida decisão, 7 de cada 10 brasileiros que já foram vacinados não teriam sido, e estaríamos ainda piores do que a 81ª colocação na corrida mundial das vacinas.

O circo de horrores não para por aí. Tivesse a negociação com a Pfizer sido feita de forma institucional, e não familiar, poderíamos ter poupado a vida de pelo menos 14 mil pessoas. Em dezembro do ano passado, o pior ministro da Saúde da história do país disse: “Pra que essa ansiedade, essa angústia?”, em relação ao plano de vacinação. Nossa ansiedade e angústia era para salvar vidas, sr. ministro!

E as tais ansiedades e angústias persistem até hoje. Saber que muitos dos nossos leitores perderam familiares, amigos e amores porque a vacinação não foi priorizada machuca e revolta muito. Saber que o genial Paulo Gustavo poderia estar aqui se o governo tivesse empenhado em comprar vacinas é desesperador. Defender a vacina agora, por interesse eleitoral, não engana ninguém. Ou acham que alguém esqueceu da ridícula entrevista: “Eu não vou me vacinar”. “Se virar jacaré, é problema seu”?

Naquela época, os chefes de Estado do mundo todo estavam tentado garantir vacinas para suas populações. Só a Capital Mundial do Negacionismo agiu na direção oposta. O preço está sendo pago agora, com milhares de mortes evitáveis acontecendo todos os dias.

Encerro a coluna de hoje citando uma frase de 2015, mas muito atual, do ministro Onyx Lorenzoni, sobre a utilização do direito de ficar calado em CPI: Só bandido usa”.

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